O Spotify se tornou sinônimo de streaming de música para muita gente, mas a história da plataforma também tem lado B: preço, catálogo, pagamento a artistas e tratamento de dados geraram controvérsia ao longo dos anos.
Preços
Quando chegou ao Brasil em 2014, a assinatura custava cerca de US$ 6 (aproximadamente R$ 15 na cotação da época). Hoje, a assinatura individual é cobrada por R$ 23,90 por mês. Em comparações de mercado, isso colocou o Spotify um pouco acima do Apple Music (R$ 21,90), abaixo do Deezer (R$ 24,90) e também abaixo do pacote do YouTube Music junto com o YouTube Premium (R$ 26,90).
Catálogo e artistas
O serviço anuncia um acervo muito grande — mais de 100 milhões de faixas, cerca de 7 milhões de podcasts e 350 mil audiobooks — mas nem tudo que existe está lá. Falta de obras foi atribuída a disputas por remuneração, entraves de licenciamento e acordos de exclusividade com outras plataformas.
Alguns artistas chegaram a tirar seus trabalhos do site em protesto. Uma frase que marcou esse debate foi da própria Taylor Swift: “música não deveria ser de graça”. Ela manteve seu repertório fora do serviço entre 2014 e 2017. Em julho de 2025, a banda australiana King Gizzard & the Lizard Wizard removeu seu catálogo em reação a um investimento de € 600 milhões do CEO Daniel Ek na empresa de tecnologia militar Helsing. Outros grupos independentes, como Deerhoof, Xiu Xiu e Hotline TNT, seguiram movimento semelhante. Em 2022, artistas como Neil Young e Joni Mitchell também haviam saído do serviço em protesto contra o conteúdo do podcast de Joe Rogan, retornando apenas em 2024 após mudanças na distribuição do programa.
Remuneração
Quanto ao pagamento por reprodução, as estimativas apontam valores baixos por execução — em torno de US$ 0,00397, chegando a até US$ 0,005 dependendo do país e do tipo de assinatura. Na prática, isso significa que cerca de um milhão de reproduções mensais renderia algo entre US$ 3 mil e US$ 5 mil em receita bruta — montante do qual boa parte costuma ficar com os detentores de direitos (gravadoras e distribuidoras). O streaming respondeu por cerca de 84% da receita do setor musical, e o Spotify detinha aproximadamente 30% do mercado de streaming em número de assinantes.
Privacidade e segurança
Também houve episódios que chamaram atenção para segurança e dados pessoais. Em 2020, um relatório da vpnMentor revelou que cerca de 350 mil contas foram expostas por um banco de dados desprotegido, com vazamento de e-mails, nomes de usuário e senhas. Usuários relataram, em anos anteriores, anúncios maliciosos veiculados na plataforma.
Em 2025, veio à tona que aproximadamente 10 mil usuários haviam vendido seus próprios dados para treinar sistemas de inteligência artificial — um episódio que reacendeu o debate sobre quem realmente detém e controla informações pessoais.
Além disso, em 2023 a Autoridade Sueca de Proteção de Dados aplicou uma multa de cerca de € 5 milhões ao Spotify por não fornecer respostas completas a pedidos de acesso feitos por usuários; o processo havia começado em 2019 após denúncia da organização noyb e foi conduzido sob o regime do GDPR.
Conclusão
Remoções de músicas, dúvidas sobre como a receita é repartida e incidentes com dados pessoais geraram investigações e ações regulatórias nos últimos anos. O resultado é que o tema segue no centro de um escrutínio público e jurídico intenso — e com razão: afinal, música, dinheiro e privacidade são questões que afetam tanto artistas quanto ouvintes.