Sete gigantes da tecnologia dos Estados Unidos — Nvidia, Microsoft, Apple, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla — somavam, até o fechamento de quinta-feira (2), uma capitalização de mercado combinada de US$ 20,8 trilhões, acima do Produto Interno Bruto estimado da União Europeia, de US$ 19,4 trilhões.
Sozinha, a Nvidia chegou perto de uma avaliação de US$ 4,3 trilhões, um tamanho comparável ao da economia da Alemanha — um sinal do quanto essas empresas têm peso nas bolsas.
O que isso significa?
O número reacendeu um debate conhecido: será que estamos diante de uma nova bolha tecnológica? Comparações com a bolha das pontocom voltaram porque, historicamente, bolhas aparecem quando preços se afastam demais dos fundamentos, alimentados por otimismo e comportamento coletivo.
Alguns especialistas resumiram o fenômeno com palavras simples. Robert Shiller falou em “contágio social”, apontando como ideias e expectativas podem se espalhar rápido e inflar preços. Outros lembraram Hyman Minsky: em períodos de euforia, investimentos deixam de ser avaliados por resultados e passam a valer por narrativas — o que torna o mercado sensível a choques macroeconômicos, regulatórios ou psicológicos.
IA no centro das atenções
Grande parte do movimento recente se concentra na inteligência artificial. Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, o índice Nasdaq 100 subiu cerca de 140% em menos de três anos — um ganho relevante, mas ainda abaixo dos cerca de 500% registrados nos três anos anteriores ao pico da bolha das pontocom, em março de 2000.
Para alguns analistas, porém, isso não é prova automática de bolha. Jordi Visser, da 22V Research, afirmou que, para distinguir a IA do rótulo fácil de “bolha”, é preciso reconhecer que pode ser uma ‘‘corrida estrutural’’ e não apenas uma mania especulativa.
Ao mesmo tempo, aparecem sinais que preocupam:
- a forte entrada de recursos em ETFs focados em IA;
- a valorização especulativa de pequenas empresas do setor;
- a concentração de capital nas poucas gigantes do mercado.
Em termos de múltiplos, a Tesla se destaca como ‘outlier’, com um índice preço/lucro projetado em torno de 220 vezes. As demais empresas do grupo mostram P/L projetados entre 24,8 e 33,3, enquanto a média atual do Nasdaq 100 está acima de 40 vezes.
Especialistas concordam que as avaliações estão elevadas, mas em muitos pontos não repetem a irracionalidade em escala vista no auge das pontocom. O cenário pode refletir tanto uma transformação estrutural da economia digital quanto riscos de excesso especulativo — ou os dois ao mesmo tempo.
Até agora não foram anunciadas investigações ou audiências públicas diretamente ligadas a essa valorização. A pergunta que fica — bolha ou reestruturação? — segue em aberto, e só o tempo, eventos econômicos e decisões regulatórias darão uma resposta mais clara.