Imagine robôs trabalhando dia e noite para otimizar a agricultura. Essa não é mais uma cena de ficção científica. Cientistas chineses do Instituto de Genética e Biologia do Desenvolvimento (IGDB), ligado à Academia Chinesa de Ciências, desenvolveram uma nova metodologia de polinização que promete revolucionar o cultivo de diversas plantas. A tecnologia, que opera 24 horas por dia sem descanso, pode impactar significativamente a produção na Bahia, oferecendo possibilidades reais de aumento de produtividade e redução de custos para os agricultores locais.
Por muito tempo, a polinização – essencial para a vida no campo – dependeu de métodos naturais ou do trabalho manual humano. Esses processos, embora tradicionais, consomem tempo e recursos consideráveis, nem sempre garantindo a máxima eficiência. Agora, essa realidade está prestes a mudar. Uma abordagem inovadora surge para transformar as práticas agrícolas, tanto em nível global quanto nacional, e o agronegócio baiano pode ser um dos grandes beneficiados.
Como a tecnologia funciona
Batizado de GEAIR (Genome Editing with Artificial-Intelligence-based Robots), este sistema inovador foi concebido para superar desafios históricos na polinização de híbridos, permitindo o cruzamento de variedades vegetais para gerar colheitas mais resistentes e abundantes. Em culturas como tomate e soja, por exemplo, a automação do processo era uma tarefa complexa, tornando a produção altamente dependente da mão de obra.
Xu Cao, o professor que liderou o estudo publicado na renomada revista Cell no último dia 11, ressaltou o impacto financeiro da polinização manual nos custos de produção. Na China, ela representa mais de 25% do custo total na produção de tomates frescos. Desse montante, a etapa de ‘emasculação’ – que visa evitar a autopolinização indesejada – corresponde a 40% do esforço. Para a cultura da soja, o professor explicou que as características das flores, que se mantêm fechadas, impedem que os produtores aproveitem um potencial de aumento de produtividade que poderia chegar a impressionantes 30%.
Co-design planta-robô
A ideia para o ‘co-design planta-robô’ veio da famosa Revolução Verde, período de grandes transformações na agricultura que adaptou culturas ao uso de maquinário. Agora, o desafio foi adaptar as plantas para trabalharem em conjunto com robôs. Para isso, a equipe de pesquisadores criou um modelo que envolveu a modificação genética das plantas e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de robôs específicos para a tarefa.
Como isso funciona? Do ponto de vista botânico, os cientistas empregaram a poderosa ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9 para alterar genes cruciais para o desenvolvimento floral, como o GLO2 em tomates. O objetivo era criar plantas com características específicas, como a ‘esterilidade masculina’ e estigmas mais acessíveis, facilitando a interação com as máquinas. O professor Xu descreveu o processo como um ‘makeover’ nas flores para torná-las compatíveis com a automação. No aspecto tecnológico, o GEAIR incorpora machine learning (um tipo de inteligência artificial) para identificar precisamente as flores prontas para a polinização, que é então executada por um braço robótico. Os testes mostraram que a eficiência dos robôs é comparável à dos humanos, com a enorme vantagem de operar ininterruptamente.
Potencial e sustentabilidade
A cereja do bolo é que o GEAIR pode ser integrado a outras técnicas avançadas. Com o ‘speed breeding’ (aceleração do crescimento com ciclos de luz estendidos) e a ‘domestication’ (incorporação rápida de traços de plantas selvagens), o tempo necessário para o desenvolvimento de novas variedades de culturas é drasticamente reduzido. Já foram desenvolvidos tomates com sabor aprimorado e maior resistência a condições ambientais adversas, e a mesma estratégia obteve sucesso em aplicações com a soja.
Para o professor Xu, este sistema representa uma verdadeira ‘mudança de paradigma’ na agricultura. Ao redesenhar as plantas para funcionarem em sinergia com a inteligência artificial e a robótica, é possível não apenas criar cultivos de qualidade superior, mas também fazê-lo de forma mais rápida, com menores custos e de maneira mais sustentável. Isso abre novas e promissoras perspectivas para a produtividade no campo, inclusive para os agricultores na Bahia.