Pesquisadores encontraram algo parecido com uma reunião de família cósmica: pelo menos cinco galáxias em processo de fusão quando o Universo tinha cerca de 800 milhões de anos. As imagens e os dados vêm do James Webb (JWST) e do Hubble, e o trabalho foi publicado em 15 de agosto na revista Nature Astronomy. O sistema passou a ser chamado de “Quinteto do JWST”.
O que foi observado
As galáxias, identificadas como ELG1 a ELG5, são do tipo de emissão: apresentam assinaturas fortes de hidrogênio e oxigênio, sinal de formação intensa de estrelas. O instrumento NIRCam do Webb mostrou ainda um grande halo de gás envolvendo tudo — como se elas estivessem imersas no mesmo ambiente e fisicamente ligadas.
Partes do sistema já haviam sido vistas pelo Hubble, mas foi o JWST que confirmou que as cinco têm o mesmo deslocamento para o vermelho (redshift) e estão interagindo, ou seja, é mesmo uma fusão múltipla em estágio inicial.
Em números: os autores encontraram 17 aglomerados galácticos associados ao conjunto e estimaram uma massa estelar total equivalente a cerca de 10 bilhões de sóis.
Detalhes que chamam atenção
- As duas galáxias principais estão separadas por cerca de 43,3 mil anos‑luz.
- Um outro par fica a aproximadamente 60,7 mil anos‑luz de separação.
- Há semelhanças morfológicas com o Quinteto de Stephan, incluindo uma ponte de material entre duas componentes — típica de interações que formam caudas de maré —, mas com taxa de formação estelar bem maior do que em sistemas locais semelhantes.
Como algo assim acontece tão cedo no universo? Segundo Weida Hu, pesquisador da Universidade Texas A&M e autor principal, “Encontrar um sistema com cinco galáxias fisicamente ligadas é excepcionalmente raro, tanto em simulações atuais quanto em observações.”
Christopher Conselice, da Universidade de Manchester, também colocou as coisas em perspectiva: “Se olharmos para todas as galáxias, entre 20% e 30% delas estarão em fusão. Mas isso envolve apenas duas galáxias. A fração de sistemas múltiplos será muito, muito menor, certamente inferior a 1%.”
O que isso pode significar
Os autores projetam que, entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de anos após o Big Bang, esse sistema poderia se unir em uma única galáxia massiva e quiescente — ou seja, que já não formaria estrelas. Isso ajuda a explicar por que o Webb tem detectado gigantes galácticas inativas tão cedo na história cósmica.
Mas há limites nas conclusões atuais. Faltam espectros detalhados que permitam medir metalicidade, dinâmica e a composição do gás. Sem esses dados, não dá para dizer com certeza se fusões múltiplas como esta são realmente tão raras quanto as simulações preveem, ou se estamos vendo processos novos e inesperados no Universo primordial.
Em resumo: o Quinteto do JWST é um achado raro e intrigante. Confirmá‑lo e entender suas causas exigirá observações futuras — o tipo de mistério que deixa os astrônomos ansiosos por apontar mais telescópios.