A ascensão das ferramentas de inteligência artificial (IA), cada vez mais acessíveis, tem facilitado a criação de dublês de vozes, um novo vetor para golpes. Essas imitações podem replicar a fala de pessoas próximas, como familiares e amigos, além de figuras públicas, expondo a população a riscos inéditos. As informações são do jornal The Washington Post, que destaca a vulnerabilidade e a necessidade de medidas de proteção.
Estratégias de Defesa Pessoal
Diante desse cenário, a criação de protocolos de segurança familiar surge como uma das principais recomendações. Nos Estados Unidos, Dan Woods, ex-agente da lei e oficial de inteligência, implementou um sistema simples com suas filhas: uma palavra-código exclusiva para ser utilizada em situações de emergência. Essa medida permite ao pai confirmar a identidade das filhas, evitando fraudes que simulam sequestros ou outras situações críticas para extorquir dinheiro.
Especialistas reforçam que os golpes que utilizam vozes clonadas são tecnicamente simples e, geralmente, envolvem ligações ou mensagens. O principal fator para a eficácia desses golpes é o medo da vítima, não a complexidade da tecnologia em si. Assim, a prevenção passa por ações diretas e a criação de mecanismos de verificação. Para se proteger, é fundamental:
- Criar uma frase, pergunta ou padrão de comunicação que seja conhecido apenas pelos membros da família, impossível de ser adivinhado por um criminoso com IA.
- Sempre que houver um contato alarmante sobre um ente querido em perigo, solicitar a palavra-código para verificar a identidade.
- Manter o ceticismo como primeira linha de defesa, desconfiando de solicitações urgentes e inusitadas.
- Tentar entrar em contato diretamente com a pessoa envolvida ou com outro familiar para confirmar a veracidade da informação.
- Nunca realizar transferências de dinheiro após receber uma ligação ameaçadora, independentemente da urgência.
- Desconsiderar o identificador de chamadas, pois criminosos podem falsificar números para simular que a ligação vem de um parente ou autoridade.
Essas orientações são válidas mesmo em cenários onde a palavra-código possa ser esquecida em uma emergência real, reforçando a importância da cautela.
A Importância da Verificação
Em declaração concedida ao The Washington Post, Eva Velasquez, presidente do Centro de Recursos contra Roubo de Identidade (Identity Theft Resource Center – ITRC), sublinhou a necessidade de calma frente a situações de risco.
A coisa mais importante é não reagir de forma exagerada. Lembrar da frase ‘vá direto à fonte’ é uma forma simples de garantir que você verifique qualquer informação antes de agir.
Eva Velasquez, presidente do ITRC
Debate sobre a Regulamentação da IA
A recorrência de golpes de impostores é uma preocupação global. Nos Estados Unidos, a Comissão Federal de Comércio identificou essa modalidade como a fraude mais relatada no ano anterior, com a maioria dos casos envolvendo indivíduos se passando por empresas ou órgãos oficiais, como a Previdência Social, para extorquir dinheiro ou dados. No Brasil, esses tipos de fraude também são frequentes, impulsionando o debate sobre a responsabilidade.
É crescente a discussão sobre a necessidade de regulamentações mais rigorosas para tecnologias de inteligência artificial, visando garantir a segurança da população e evitar que a carga da prevenção recaia exclusivamente sobre os cidadãos. Um guia de políticas divulgado pelo Consumer Reports, por exemplo, sugere que ferramentas de clonagem de voz não deveriam ser amplamente disponíveis ao público, como forma de coibir seu uso indevido por criminosos.