A escolha da Apple de fabricar a maior parte de seus aparelhos na China teve efeitos que vão muito além da montagem final: ajudou a formar uma base industrial e tecnológica local mais forte e competitiva.
O que aconteceu
Reportagens e um livro apontam que a empresa concentrou mais de 90% da produção de seus produtos em solo chinês. Essa conclusão aparece em apuração da BBC baseada no livro Apple in China: The Capture of the World’s Greatest Company, do ex-correspondente do Financial Times, Patrick McGee, que conversou com mais de 200 ex-funcionários da Apple.
Uma análise de 2024 do jornal japonês Nikkei Asia mostrou que 87% dos fornecedores da Apple têm fábricas na China, e que mais da metade dessas empresas tem sede na China ou em Hong Kong. Com o tempo, fornecedores locais passaram a substituir os estrangeiros que antes integravam a cadeia global.
Consequências práticas
A transferência de conhecimentos, processos e investimentos permitiu que grupos chineses desenvolvessem produtos próprios com nível de complexidade semelhante ao de empresas norte-americanas. Entre as categorias citadas estão:
- smartphones;
- veículos elétricos;
- tecnologias de inteligência artificial.
Apesar de esforços recentes para diversificar a produção, a Apple segue dependente em larga escala de fabricantes chineses.
McGee ressalta um risco geopolítico direto: se o governo chinês quisesse, poderia interromper a produção desses aparelhos de forma abrupta. Como ele colocou, “Agora, Pequim está usando essas habilidades como arma contra o Ocidente”.
Por que isso importa para nós
O caso alimenta debates sobre cadeias de suprimento e autonomia tecnológica. Concentrar tanta produção em uma única região torna sistemas inteiros mais vulneráveis a choques — sejam eles políticos, sanitários ou logísticos. Aqui no Brasil, inclusive na Bahia, o tema tem servido de alerta para pensar alternativas e reduzir dependências.
Nas fontes consultadas não há menção a investigações ou audiências públicas em andamento relacionadas ao assunto.
Em resumo: a escolha industrial da Apple ajudou a acelerar a capacidade tecnológica da China — com ganhos econômicos e risco de concentração que hoje alimentam um debate global sobre quem controla o que e onde.