Um dos números mais conhecidos da saúde brasileira, a pressão arterial de 12 por 8, deixou de ser considerada referência de normalidade. A Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025, lançada no 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia em São Paulo, reclassificou esse valor como pré-hipertensão, reforçando a necessidade de prevenção ainda antes do diagnóstico formal da doença.
De acordo com o documento elaborado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) e pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), valores entre 120/80 mmHg e 139/89 mmHg exigem acompanhamento médico, mudanças de estilo de vida e, em alguns casos, até tratamento medicamentoso.
A atualização também estabeleceu metas mais rígidas. Se antes era aceitável manter a pressão abaixo de 14 por 9 (140/90 mmHg), agora a recomendação é reduzir para menos de 13 por 8 (130/80 mmHg), em qualquer faixa etária ou condição de saúde. Segundo especialistas, a meta mais baixa reduz riscos de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal.
A diretriz inclui ainda o escore PREVENT, ferramenta que calcula a probabilidade de o paciente sofrer um evento cardiovascular nos próximos dez anos, levando em conta obesidade, diabetes, colesterol e histórico clínico.
Outro ponto inédito é a inclusão de capítulos dedicados ao SUS, reforçando a importância de protocolos claros para a rede pública de saúde, que acompanha 75% dos hipertensos no país. O documento também traz recomendações específicas para a saúde da mulher, considerando fatores de risco durante a gestação, menopausa e uso de anticoncepcionais.
Contexto internacional e repercussões
O Brasil segue uma tendência já adotada pela Sociedade Europeia de Cardiologia em 2024, quando o valor de 12 por 8 também foi reclassificado como pressão “elevada”.
Médicos destacam que a revisão deve combater a chamada “inércia terapêutica”, quando intervenções só são feitas em fases avançadas da doença. Dados da SBC indicam que apenas 30% dos hipertensos conseguem manter a pressão sob controle.
Um estudo publicado na revista científica The Lancet reforça a necessidade das medidas mais rigorosas: ao analisar 80 mil pacientes, cientistas concluíram que metas abaixo de 130 mmHg reduzem o risco de infarto e AVC em até 1,7%, índice considerado expressivo em saúde pública.
Prevenção e desafios
As recomendações incluem redução do sal, adoção de dieta rica em potássio, prática regular de atividades físicas e controle do peso. Para casos de maior risco, a prescrição medicamentosa pode iniciar mais cedo.
A hipertensão continua sendo uma das principais causas de morte no Brasil, afetando 27,9% da população adulta. Com a nova classificação, milhões de brasileiros que viviam na “zona de normalidade” passam a ser considerados em risco, ampliando o desafio da saúde pública.