As plataformas de apostas online, popularmente chamadas de “bets”, consolidaram sua posição como o segundo maior destino na internet brasileira. Dados da SimilarWeb, empresa global de monitoramento de tráfego, revelam que o setor ultrapassou importantes sites de redes sociais e de conteúdo, registrando bilhões de acessos no país. Apesar do crescimento expressivo, as atividades dessas empresas levantam debates sobre os potenciais impactos negativos, como o vício em jogos.
O avanço das bets reflete uma demanda latente no mercado nacional, conforme apontado por especialistas do setor. Leonardo Benites, diretor de comunicação da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), explicou ao colunista Helton Simões Gomes, do UOL, que o volume de tráfego gerado é uma consequência natural dos investimentos em marketing da indústria e de uma procura histórica no Brasil. Ele ressaltou que a proibição legal de jogos e apostas desde 1948 criou uma demanda reprimida.
Impacto da Regulamentação e Números
A regulamentação das casas de apostas, que começou a operar de forma mais efetiva em janeiro, foi um marco. A partir de 2025, novas regras entram em vigor, exigindo que as empresas obtenham licença da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, paguem uma taxa de R$ 30 milhões e adaptem seus domínios para “.bet.br”. Essa mudança de domínio facilitou a compilação de dados pela SimilarWeb, que agora consegue agrupar o tráfego dessas plataformas de forma mais precisa.
Em maio, o último mês com dados contabilizados, as bets registraram 2,7 bilhões de visitas, superando YouTube (1,3 bilhão), Globo (765 milhões), WhatsApp (759 milhões) e TikTok (740 milhões). O único portal com mais acessos foi o Google, com 4,9 bilhões. A média diária de acessos em janeiro, primeiro mês regulamentado, era de 55 milhões, saltando para 68 milhões em maio. O Brasil é responsável por 99,92% do tráfego do domínio “.bet.br”, colocando o país como o 14º mais visitado globalmente nesse segmento.
“Até pelos investimentos de marketing feitos hoje pela indústria, faz total sentido a quantidade de tráfego que geramos. Isso só concatena com a ideia de que é algo que o brasileiro buscava e vai continuar buscando.”
— Leonardo Benites, diretor de comunicação da ANJL, sobre o crescimento do setor.
José Sarkis Arakelian, consultor e professor de estratégia de marketing da FAAP, analisou a relevância dessa ascensão, mas alertou para a necessidade de cautela na comparação, pois o segmento de apostas é confrontado com plataformas isoladas como redes sociais. Ele destacou que a estratégia bem-sucedida das bets para construção de marca, com patrocínios a clubes de futebol e programas esportivos, além de influenciadores, é crucial, já que o serviço em si é similar entre as diferentes empresas. “A construção de marca não é conectada com o tangível, a usabilidade do serviço, mas a partir dos intangíveis: confiança, reputação e a experiência do consumidor”, afirmou Arakelian.
Desafios e Regulação da Publicidade
O crescimento do setor também trouxe à tona discussões sobre publicidade. Um projeto de lei aprovado no Senado e em análise na Câmara dos Deputados propõe restrições significativas, como:
- Proibição de atletas, artistas e influenciadores em campanhas.
- Veto a mensagens que associem apostas a sucesso ou renda.
- Limitação de horários de veiculação em TV, rádio e plataformas digitais.
- Proibição de publicidade para o público infantojuvenil.
- Obrigatoriedade de alertas sobre os prejuízos do jogo.
Tanto Arakelian quanto Benites expressam preocupação com essas medidas, pois elas podem beneficiar operadoras ilegais, já que as restrições se aplicam apenas às plataformas regulamentadas.
A liberação de aplicativos de apostas na Google Play Store também contribui para a facilidade de acesso, embora não deva alterar substancialmente o tráfego geral. Segundo Benites, a presença nos dispositivos móveis é um fator de grande impacto, pois os celulares são o ponto de contato constante dos usuários.
A ascensão das casas de apostas no cenário digital brasileiro reflete uma complexa interação entre demanda do público, investimentos em marketing e o processo de regulamentação. O debate sobre a publicidade e os riscos associados ao vício em jogos permanece central nas discussões sobre o futuro do setor no país.