Pesquisadores conseguiram, pela primeira vez, medir não só a velocidade, mas também a direção do recuo de um buraco negro recém‑formado após a fusão de dois outros. O trabalho, publicado nesta terça‑feira (9) na revista Nature Astronomy, analisou o evento GW190412 e envolveu equipes da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), da Pennsylvania State University (PSU) e da Chinese University of Hong Kong.
Como foi feito
Os cientistas usaram ondas gravitacionais — aquelas ondulações no espaço‑tempo previstas por Albert Einstein — para extrair informações sobre o movimento do objeto resultante da fusão. Instrumentos como o LIGO e o interferômetro Virgo permitiram as primeiras detecções em 2015; desde então, mais de 300 eventos foram registrados em cerca de dez anos. O método aplicado foi desenvolvido em 2018 e, entre os sinais observados, o de 2019 foi o primeiro suficientemente claro para permitir essa medição.
O GW190412 envolveu buracos negros de massas desiguais, o que ajudou a revelar detalhes do recuo. A equipe estimou um deslocamento superior a 50 km/s, velocidade capaz de tirar o objeto de um aglomerado estelar.
O que os dados revelam
As ondas gravitacionais carregam uma espécie de impressão digital do evento: a forma como o sinal chega até nós muda conforme nossa posição relativa à fusão. Isso permite reconstruir o movimento tridimensional do buraco negro recém‑formado. Como comparou o professor Juan Calderon‑Bustillo, é como ouvir uma orquestra de diferentes pontos do auditório — dependendo de onde estamos, percebemos combinações distintas de sons; com dados suficientes, dá para saber exatamente onde estamos.
Koustav Chandra, da PSU, destacou a dimensão do feito: “Estamos reconstruindo todo o movimento tridimensional de um objeto a bilhões de anos‑luz usando pequenas perturbações no espaço‑tempo.”
Por que isso importa
Medir a direção do recuo abre a porta para ligar sinais luminosos observados após fusões — os chamados flares — às ondas gravitacionais correspondentes. Em outras palavras: ao saber para onde o remanescente foi expulso, fica mais fácil confirmar se um clarão visto em luz tem, de fato, a mesma origem que a oscilação gravitacional detectada.
- Ajuda a distinguir coincidências casuais de associações reais entre luz e ondas gravitacionais.
- Permite estudar fusões em ambientes densos, como núcleos de galáxias ativas, onde o recuo pode gerar emissões observáveis.
- Oferece uma nova maneira de investigar como buracos negros se formam e se movimentam.
Segundo os autores, a demonstração reforça o papel das ondas gravitacionais como ferramenta capaz de revelar detalhes antes inacessíveis sobre buracos negros e suas origens — um passo que amplia as perguntas que agora podemos fazer ao cosmos.