O pesquisador Daryl Janzen, da Universidade de Saskatchewan, publicou no site The Conversation um texto que reacendeu o debate sobre o que entendemos por espaço‑tempo. O artigo teve eco no Brasil, inclusive na Bahia, porque toca numa questão que mistura ciência e linguagem do dia a dia.
O que mudou com Einstein
Antes de Albert Einstein, o tempo era visto como algo fixo e igual para todo mundo. A teoria da relatividade mostrou que o tempo não é absoluto: ele se comporta, em muitos aspectos, como o espaço e pode ser distorcido pela massa e pela energia. Em outras palavras: relógios e distâncias dependem das condições ao redor.
Palavras que complicam
Janzen chama a atenção para um problema simples e poderoso: usamos palavras comuns — “tempo”, “existir”, “atemporal” — em contextos técnicos sem explicar o que elas passam a significar nessa linguagem científica. O resultado? Confusão. Termos familiares acabam sendo reaproveitados e criam ambiguidades entre o que é descrição científica e o que é interpretação filosófica.
Algumas expressões reaparecem tanto que viram quase clichês em debates sobre física, enquanto o público fica com a impressão de estar diante de verdades do cotidiano. Mas será que estamos falando da mesma coisa quando usamos essas palavras em física e no dia a dia?
O “Universo em bloco”
No campo da Filosofia da Física, Janzen discutiu a ideia conhecida como “Universo em bloco”. Nessa visão, o tempo não “flui”: todos os eventos — passado, presente e futuro — existem de uma só vez numa estrutura quadridimensional. Isso leva a uma diferença sutil, porém importante, entre o que significa existir e o que significa ocorrer, e levanta questões sobre a natureza ontológica do espaço‑tempo.
Isso põe em foco debates mais amplos, como: quando dizemos que algo “aconteceu”, estamos descrevendo um registro dentro de uma estrutura matemática, ou afirmando algo sobre a realidade em si?
Consequências práticas
É importante frisar: nada do que Janzen aponta põe em risco as equações ou os resultados empíricos da relatividade. As fórmulas de Einstein continuam a descrever fenômenos observáveis. O que muda é a forma como interpretamos esses resultados — e como essas interpretações influenciam especulações sobre viagem no tempo, multiversos e origem do universo.
Especialistas e filósofos da física reagiram mantendo o debate sobre precisão terminológica e a necessidade de distinções conceituais mais claras. A discussão segue como parte das reflexões teóricas que orientam tanto as interpretações científicas quanto a compreensão pública da relatividade e de hipóteses associadas.
Em resumo: a observação de Janzen lembra que a linguagem importa. Entender o que se quer dizer com termos aparentemente simples pode evitar mal-entendidos e enriquecer o diálogo entre cientistas e o público.