Pesquisadores da Universidade Luís Maximiliano, de Munique relataram em um estudo publicado na Nature Communications que, em camundongos geneticamente modificados, a perda do olfato surgiu antes de outras mudanças cerebrais típicas do Alzheimer.
O que eles viram
Os cientistas focaram numa região do tronco cerebral chamada locus coeruleus, responsável pela produção de noradrenalina — um neurotransmissor ligado à atenção, ao estresse e ao sentido do olfato. Nessa área, um grupo de neurônios relacionados ao olfato começou a degenerar cerca de 1 a 2 meses antes do aparecimento de outras alterações associadas ao Alzheimer, como a formação de placas de β‑amiloide.
Em testes comportamentais, os camundongos perderam a capacidade de identificar cheiros, enquanto mantiveram desempenho em outras tarefas cognitivas avaliadas pelos pesquisadores. Ou seja: a alteração sensorial precedeu déficits cognitivos mais claros no modelo experimental.
Comparação com humanos
Como não é possível examinar o cérebro humano do mesmo jeito, a equipe comparou as descobertas nos animais com dados de pacientes em estágio inicial do Alzheimer, buscando sinais parecidos entre modelos animal e humano. A intenção foi verificar se a degeneração precoce de neurônios olfativos poderia corresponder a sinais detectáveis em pessoas.
Além disso, estudos anteriores já ligaram problemas de olfato ao risco de demência. Por exemplo, um trabalho publicado em maio no Journal of Alzheimer’s Disease acompanhou 364 pessoas por cerca de dois anos e meio. Todos começaram sem comprometimento cognitivo; fizeram testes de identificação de odores, avaliações cognitivas e tomografias PET para detectar acúmulo de β‑amiloide e tau. Baixas pontuações nos testes de olfato estiveram associadas a maior probabilidade de desenvolver comprometimento cognitivo leve, condição que pode evoluir para Alzheimer ou outras demências.
Por que isso importa
Em vez de ser apenas um incômodo cotidiano, a perda do olfato pode funcionar como um sinal precoce e até subestimado da doença. Dessa forma, os autores sugerem que investigar alterações sensoriais — o olfato como uma espécie de sentinela — pode ajudar a orientar pesquisas e a criar exames de diagnóstico mais precoces para o Alzheimer.