Pesquisadores apresentaram no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), realizado em Chicago, Estados Unidos, três descobertas promissoras que podem transformar o tratamento do câncer de mama. O evento reuniu 45 mil médicos e pesquisadores para discutir os mais recentes avanços na área oncológica.
Biópsia líquida antecipa mudança de medicamentos
O estudo que mais chamou atenção foi o ensaio clínico SERENA-6, focado em mulheres com câncer de mama metastático do tipo ER+ e HER2 negativo. A pesquisa propôs o uso frequente da biópsia líquida, um exame de sangue capaz de identificar mutações no gene ESR1 no material genético tumoral circulante.
“O interessante desse trabalho é que, em vez de esperarem a evolução clínica da doença, eles acompanharam as pessoas seguindo o tratamento tradicional e dosaram no sangue, a cada dois a três meses, a presença da mutação do gene ESR1”, explicou o oncologista Rafael Kaliks, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Quando a mutação aparecia, mesmo sem sintomas, metade das pacientes trocava o tratamento padrão pelo camizestranto, uma droga oral ainda em fase de testes. Os resultados mostraram que as mulheres que mudaram a terapia mantiveram a doença controlada por 16 meses, contra apenas 9,2 meses no grupo que seguiu com a abordagem tradicional.
Nova combinação aumenta sobrevida em casos agressivos
Para o câncer de mama HER2 positivo metastático, considerado o estágio mais agressivo da doença, os pesquisadores testaram a combinação do trastuzumabe deruxtecano com o anticorpo pertuzumab. Esta estratégia busca direcionar a quimioterapia especificamente para as células tumorais, reduzindo efeitos colaterais.
A combinação demonstrou uma redução de 44% no risco de progressão do câncer e morte, comparada à terapia habitual. O método conseguiu conter a doença por mais de três anos, representando um avanço significativo para pacientes com essa forma mais agressiva do tumor.
Droga oral oferece nova esperança
O terceiro avanço apresentado foi o vepdegestrant, uma nova droga oral que ataca o gene ESR1 dentro da célula. O medicamento conseguiu controlar a doença por cinco meses, enquanto o tratamento padrão, que bloqueia o receptor de estrogênio, oferece controle por apenas dois meses.
O vepdegestrant já recebeu designação de via rápida (Fast Track) do FDA americano para pacientes com câncer de mama ER-positivo/HER2-negativo localmente avançado ou metastático.
Cenário brasileiro do câncer de mama
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 73 mil novos diagnósticos de câncer de mama em 2025, com taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. A doença é responsável por aproximadamente 18 mil mortes anuais no país.
Atualmente, entre 50% e 60% dos casos de câncer de mama são curados no Brasil. Com acesso adequado ao rastreamento, diagnóstico rápido e tratamento completo, essa taxa pode ultrapassar 80%.
Implementação dos novos tratamentos
Os especialistas destacam que, apesar dos avanços promissores, ainda são necessárias etapas regulatórias, análises de precificação e negociações entre órgãos responsáveis para disponibilizar os tratamentos nos sistemas de saúde.
Para Rafael Kaliks, mesmo que as pesquisas demorem para sair do âmbito clínico, elas serão muito influentes para a redução dos índices de mortalidade.
O câncer de mama, que já é considerado uma doença altamente curável, tende a se tornar ainda mais curável com esses novos desenvolvimentos. Os pesquisadores acreditam que, para algumas pacientes com doença metastática, tradicionalmente considerada incurável, a cura pode se tornar uma possibilidade real em um futuro próximo.