O satélite NISAR, fruto da parceria entre a NASA e a ISRO, enviou suas primeiras imagens de radar da Terra — um ensaio antes do começo das operações científicas completas, previstas para novembro.
O veículo foi lançado em 30 de julho e gerou imagens nos dias 21 e 23 de agosto. Essas primeiras capturas cobriram a Ilha Mount Desert, na costa do estado do Maine (EUA), e áreas do nordeste da Dakota do Norte, mostrando florestas, áreas úmidas, cursos d’água e padrões agrícolas.
O que as imagens mostram
As imagens em banda L, fornecidas pelo JPL, traduzem água em tons escuros, vegetação em verde e superfícies regulares ou construídas em magenta. O sistema conseguiu identificar objetos de até cerca de 5 metros — detalhe suficiente para distinguir campos em pousio, áreas de cultivo e os círculos típicos de irrigação por pivô central na Dakota do Norte.
Mas o que há por trás desses tons e contrastes? Em termos simples, cada comprimento de onda “vê” a superfície de um jeito diferente: alguns penetram copas de árvores, outros são mais sensíveis à vegetação rasteira. Juntos, eles formam uma imagem mais completa do que acontece no solo.
Como o satélite funciona
- O radar em banda L operou com comprimento de onda de cerca de 25 centímetros, capaz de atravessar copas de árvores e medir umidade do solo e deslocamentos de superfície com precisão de frações de centímetro.
- O radar em banda S, com ondas de aproximadamente 10 centímetros, tem maior sensibilidade à vegetação rasteira e foi fornecido pelo Centro de Aplicações Espaciais da ISRO.
- O NISAR combina os dois tipos de radar — algo inédito — e usa uma antena refletora em formato de tambor com 12 metros de diâmetro, a maior já lançada pela NASA, segundo dados oficiais.
- O satélite foi colocado em órbita operacional de cerca de 747 quilômetros e passou por manobras e abertura de estruturas acompanhadas pela rede de estações terrestres da ISRO.
No lado americano, o JPL forneceu o radar em banda L e vários subsistemas de comunicação, gravação e transmissão de dados; o Centro de Voos Espaciais Goddard assumiu a gerência da recepção dos dados via Near Space Network. Do lado indiano, o Centro de Aplicações Espaciais entregou o radar em banda S e o Centro Espacial U R Rao construiu a plataforma do satélite. O lançamento ocorreu a partir do Centro Espacial Satish Dhawan, com veículo disponibilizado pelo Centro Espacial Vikram Sarabhai.
“As primeiras imagens demonstraram o que a cooperação internacional em ciência espacial pode alcançar”, disse Sean Duffy sobre os resultados iniciais. Nicky Fox complementou: “Essas imagens iniciais foram apenas uma prévia da ciência que o observatório produzirá”.
O que isso significa na prática? Mesmo em fase preliminar, os dados já sinalizam aplicações úteis: resposta a desastres, monitoramento de infraestrutura e gestão agrícola. Essas capacidades podem beneficiar regiões de vários países, incluindo áreas costeiras e agrícolas do Brasil, como a Bahia.
Nas próximas semanas as equipes acompanharão a abertura final dos painéis e da antena refletora e seguirão com a coleta e a validação dos dados que serão disponibilizados para a comunidade científica. As operações científicas completas estão previstas para começar em novembro.