Aquele desconforto no abdome e a vontade urgente de ir ao banheiro em momentos de nervosismo não é só impressão: estudos recentes mostram que há uma ligação forte entre o intestino e o sistema nervoso.
O intestino tem vida própria
Os pesquisadores descrevem o trato digestivo como uma verdadeira rede: cerca de meio bilhão de neurônios, mais de 30 neurotransmissores e um comprimento estimado entre 6 e 9 metros, do esôfago ao reto. Esse conjunto forma o chamado Sistema Nervoso Entérico (SNE), que opera de modo, em grande parte, autônomo.
Além disso, o intestino produz uma parte importante dos mensageiros químicos do corpo: aproximadamente 50% da dopamina e 90% da serotonina. Quase 70% das células do sistema imunológico também residem ali, o que explica por que problemas intestinais podem facilitar infecções e inflamações recorrentes.
Microbiota e comportamento
A relação entre bactérias intestinais e comportamento vem ganhando evidências. Em um experimento liderado pelo professor John Cryan, da University College Cork, camundongos que receberam Lactobacillus rhamnosus no alimento melhoraram em testes de labirinto e natação em cerca de 50%, tiverem níveis de corticosterona reduzidos também em torno de 50% e mostraram alterações favoráveis na distribuição do GABA, neurotransmissor ligado ao controle da ansiedade.
Em humanos, um estudo da Universidade da Califórnia com 36 mulheres divididas em três grupos por um mês comparou iogurte com probióticos (contendo bifidobacterium, streptococcus, lactococcus e lactobacillus), iogurte sem esses microrganismos e a dieta habitual. Exames de ressonância magnética registraram mudanças em áreas como a ínsula e o córtex somatossensorial, além de aumento de conexões em regiões relacionadas ao controle da dor e ao córtex pré-frontal.
O que as revisões indicam
Revisões científicas também apontaram padrões consistentes: pacientes com depressão tendem a apresentar deficiência de lactobacillus e cerca de 35% deles mostram pequenas inflamações nas paredes intestinais. Os pesquisadores concluem que a comunicação entre cérebro e intestino é bidirecional — o estado emocional pode afetar o sistema digestivo e alterações intestinais podem influenciar o comportamento.
O que você pode fazer
Com base nessas evidências, estudos recomendam mudanças práticas que ajudam a cuidar da saúde intestinal e mental, como:
- Reduzir alimentos ultraprocessados e aumentar a variedade de proteínas, frutas e legumes para diversificar o microbioma.
- Praticar técnicas de redução de estresse — por exemplo, meditação ou yoga — por cerca de 20 minutos diários.
- Cuidar da higiene do sono, já que dormir bem protege tanto o cérebro quanto o intestino.
Esses achados reforçam a ideia de que intervenções na microbiota e mudanças de estilo de vida podem ser caminhos promissores para modular o humor e reduzir riscos ligados a doenças físicas e mentais.