Uma iniciativa de biotecnologia nos Estados Unidos tem gerado repercussão na comunidade científica e pública. Dois animais nascidos em laboratório, apresentados como versões de um lobo pré-histórico extinto há 10 mil anos, atingiram seis meses de idade e dobraram de tamanho. Esses filhotes são resultado de modificações genéticas conduzidas pela empresa Colossal Biosciences, que causou controvérsia ao inicialmente anunciar a “desextinção” do lobo-terrível (Aenocyon dirus).
O projeto, que envolveu a manipulação de genes em lobos-cinzentos (Canis lupus), foi recebido com ceticismo. Poucas semanas após o anúncio inicial em abril de 2025, a cientista-chefe da Colossal, Beth Shapiro, esclareceu que os animais não eram o lobo-terrível original, mas sim lobos-cinzentos geneticamente alterados para se assemelharem à espécie extinta. A empresa defendeu o uso do termo “lobo-terrível” como algo “coloquial” em referência aos filhotes, nomeados Romulus, Remus e Khaleesi.
A Colossal divulgou vídeos mostrando o desenvolvimento de Romulus e Remus. Os irmãos já pesam aproximadamente 40,8 kg, o que representa um aumento de 20% em relação a um lobo-cinzento comum. Matt James, Diretor de Animais da companhia, indicou que a manifestação dos genes do lobo pré-histórico está influenciando as características físicas dos filhotes.
“Podemos realmente dizer que os genes do lobo pré-histórico estão se manifestando, e estamos obtendo esses lobos grandes e bonitos que são muito mais representativos do que vimos nos espécimes antigos”, afirmou Matt James.
A terceira filhote, Khaleesi, nascida três meses após os irmãos, pesa 15,9 kg e também apresenta um porte superior ao esperado para lobos-cinzentos da mesma idade.
Debate Científico e Ético
A abordagem da Colossal Biosciences na divulgação do projeto gerou críticas de especialistas. Muitos cientistas questionam a possibilidade de “desextinguir” uma espécie. O professor Nic Rawlence, paleogeneticista da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, explicou que a verdadeira desextinção exigiria a clonagem do animal, algo inviável devido à degradação do DNA ao longo do tempo. O que a empresa conseguiu foi criar um animal com semelhanças, mas não idêntico ao extinto.
Impacto Potencial da Tecnologia
Apesar das controvérsias e do debate ético em torno da recriação de espécies extintas, a tecnologia empregada pela Colossal Biosciences demonstra potencial para a conservação de animais ameaçados. A empresa aplica os mesmos métodos em iniciativas de preservação, como no caso do lobo-vermelho (Canis rufus), uma espécie em risco de desaparecimento no sudeste dos Estados Unidos, com apenas cerca de 20 indivíduos restantes.
Por meio de uma técnica não invasiva, a Colossal conseguiu clonar quatro filhotes de lobo-vermelho a partir de linhagens fundadoras, elevando a diversidade genética da espécie em 25% e contribuindo para a sua recuperação. Outro projeto notável da empresa visa a salvar o rinoceronte-branco-do-norte (Ceratotherium simum), utilizando rinocerontes-brancos-do-sul como barrigas de aluguel para embriões criados a partir de células preservadas do último macho da espécie, dado que restam apenas duas fêmeas no Quênia. Essa tecnologia, mesmo gerando discussões sobre seus limites, pode ser crucial para a sobrevivência de espécies atualmente ameaçadas.