O Templo de Karnak guarda histórias que atravessam milênios — e um estudo recente trouxe novas pistas sobre quando e por que aquele lugar passou a ser ocupado. Publicada na revista Antiquity, a pesquisa ajuda a preencher lacunas sobre a cronologia e a relação entre as construções e a paisagem ao redor de Karnak, perto de Luxor, na antiga Tebas, a cerca de 500 metros a leste do atual rio Nilo.
Como os pesquisadores chegaram lá
A equipe recolheu e analisou 61 núcleos de sedimentos dentro e ao redor do sítio e examinou dezenas de milhares de fragmentos de cerâmica. Com esses dados deram passos concretos para reconstruir a dinâmica do rio e os padrões de ocupação ao longo do tempo.
Isso permitiu ver quando a área deixou de ser um terreno frequentemente alagado e passou a ser adequada para assentamento permanente.
O que foi descoberto
Os resultados indicam que, antes de aproximadamente 2520 a.C., a região era inundada com regularidade pelo Nilo, o que a tornava imprópria para habitação contínua. A partir dessa data, os autores sugerem que a primeira ocupação em Karnak provavelmente ocorreu durante o Império Antigo (2591 a 2152 a.C.), clarificando debates anteriores sobre a idade do sítio.
No período posterior, o complexo cresceu e acabou se afirmando como o epicentro religioso, político e administrativo do Antigo Egito durante o Novo Império (1550 a 1070 a.C.). Hoje o conjunto é um dos maiores do mundo antigo, é patrimônio da UNESCO e recebe milhões de visitantes por ano.
Entre rio, elevação e mito
A posição do templo parece ter sido moldada pelo próprio Nilo: o rio abriu canais a oeste e a leste, isolando uma elevação de terra que os antigos egípcios aproveitaram. Não lembra as narrativas da criação, em que o deus criador surge como um monte emergindo de um ‘lago’? Essa semelhança sugere que havia também uma dimensão religiosa na escolha do local.
Os autores da publicação em Antiquity afirmam que os achados fornecem um nível de detalhe sem precedentes sobre a evolução do sítio. Em outras palavras, agora temos um mapa melhor do passado de Karnak — e pistas claras para pesquisas futuras sobre como a paisagem e a religião se entrelaçaram ali ao longo de quase três mil anos.