Uma pesquisa da Universidade Rice, em Houston, publicada na revista Science Advances, propõe que Júpiter teve papel decisivo na história da Terra ao alterar o disco de gás e poeira que envolvia o Sol jovem.
Como Júpiter mudou o disco
Usando simulações de ponta, os autores André Izidoro e Baibhav Srivastava mostram que o crescimento precoce de Júpiter desestabilizou o disco protoplanetário. O resultado foram ondas gravitacionais que criaram faixas de alta densidade — descritas pelos pesquisadores como “engarrafamentos cósmicos” —, capazes de reter pequenas partículas e impedir que elas espiralassem em direção ao Sol.
Essas regiões densas funcionaram como pontos de acúmulo. Ali, material se juntou e originou uma segunda geração de planetesimais cuja formação coincide com a dos condritos — meteoritos que preservam poeira primitiva e minúsculas gotas fundidas chamadas côndrulos. Ao contrário dos meteoritos de primeira geração, que passaram por fusão, os condritos mantiveram assinaturas químicas e isotópicas intactas.
Por que isso importa? Porque o modelo conecta essas assinaturas observadas nos meteoritos — que aparecem em dois tipos distintos — à própria dinâmica da formação planetária. Em outras palavras, sinais químicos antigos e evolução do disco formam um mesmo quadro.
“Os condritos (meteoritos primordiais) são como cápsulas do tempo dos primórdios do Sistema Solar”, disse André Izidoro. “Nosso modelo une duas coisas que pareciam não se encaixar antes — as impressões digitais isotópicas em meteoritos, que se apresentam em dois tipos, e a dinâmica da formação planetária”, acrescentou Baibhav Srivastava.
Consequências para os planetas internos
Segundo o estudo, o crescimento rápido de Júpiter abriu uma lacuna no disco de gás que separou material interno e externo do Sistema Solar. Essa lacuna diminuiu o fluxo de gás para dentro e, com isso, suprimiu a migração de planetas jovens — ajudando a manter a Terra, Vênus e Marte agrupados perto de uma unidade astronômica do Sol, em vez de migrar para regiões internas, como ocorre em muitos sistemas exoplanetários.
“Júpiter não se tornou apenas o maior planeta — ele definiu a arquitetura de todo o Sistema Solar interno”, afirmou André Izidoro.
Observações de discos jovens pelo telescópio ALMA, no Chile, mostram anéis e lacunas semelhantes aos previstos pelas simulações, reforçando a ideia de que gigantes gasosos remodelam o ambiente onde planetas nascem.
- Júpiter precoce criou zonas de retenção de poeira (os “engarrafamentos cósmicos”).
- Essas zonas permitiram a formação tardia de planetesimais ligados aos condritos.
- A presença do gigante gasoso ajudou a estabilizar a arquitetura interna do Sistema Solar.
A pesquisa contou com apoio da National Science Foundation e do Centro de Computação de Pesquisa da Rice. Em termos práticos, o estudo sugere que a existência de planetas semelhantes à Terra pode depender criticamente da presença precoce de gigantes gasosos como Júpiter.
Em resumo: o trabalho da Rice mostra que Júpiter, ao criar “engarrafamentos” no disco protoplanetário, favoreceu a formação tardia de condritos e ajudou a moldar o Sistema Solar como o conhecemos.

