A Inteligência Artificial (IA) avança em ritmo acelerado e já provoca um debate sério sobre o futuro do trabalho, inclusive na Bahia. Em grandes centros de tecnologia, como o Vale do Silício, a questão não é mais “se” a IA vai substituir empregos, mas “como” lidar com essa realidade. Nesse cenário, uma proposta ganha força: a Renda Básica Universal (RBU), um valor pago regularmente a todos os cidadãos, sem exigir vínculo empregatício.
Embora já tenha sido vista como uma ideia de viés socialista, a RBU ressurge como uma das principais saídas para os impactos da automação generalizada. Líderes do setor tecnológico, como mostrou o The Wall Street Journal, preveem um futuro onde a IA fará muitas das tarefas humanas, do chão de fábrica aos escritórios. A própria riqueza gerada por essa tecnologia, sugerem eles, poderia bancar esses pagamentos.
A visão dos magnatas da tecnologia
Para figuras como Elon Musk (Tesla) e Sam Altman (OpenAI), a Inteligência Artificial gerará uma riqueza imensa. Por isso, defendem a necessidade de redistribuir essa fortuna. Altman sugere que cada um poderia ter “uma parte da propriedade do que a IA cria”, falando em “trilhões de tokens” anuais, que poderiam ser usados ou negociados. Musk, por sua vez, idealiza uma “renda alta universal”. Para ele, a automação total da produção permitiria que todos compartilhassem a receita, criando um “futuro Star Trek”.
Marc Benioff, CEO da Salesforce, outro bilionário do setor, conta que aproximadamente metade do trabalho em sua empresa já é auxiliada pela IA. Ele cita os pagamentos emergenciais da pandemia como um modelo de distribuição de renda, especialmente para quem não conseguir se adaptar às novas demandas do mercado.
Críticas e os opositores da RBU
Apesar do apoio de parte dos magnatas, a Renda Básica Universal está longe de ser um consenso. Há quem critique a proposta, dizendo que ela é inviável e só serviria para justificar mais desemprego, aumentando a desigualdade social. David Autor, economista do MIT, chama a RBU de “fantasia política”. Para ele, o apoio dos líderes de IA à ideia mostra a falta de outras soluções para a perda de vagas de trabalho.
Por outro lado, o investidor Marc Andreessen ressalta a importância intrínseca do trabalho para o ser humano, defendendo que isso tornaria a RBU desnecessária. Ele sugere que o governo deveria subsidiar indústrias para manter a economia ativa. David Sacks, diretor de IA do ex-presidente Trump, também critica a RBU, rotulando-a como uma “fantasia de bem-estar social” e um meio de os bilionários da tecnologia amenizarem a culpa pelos impactos sociais de suas inovações.
Renda Básica Universal: o que é?
A RBU é uma ideia antiga, que surgiu na década de 1960. Economistas a propuseram como forma de combater a pobreza e os efeitos da automação. Hoje, há vários projetos-piloto de RBU pelo mundo, com apoio de figuras como Jack Dorsey e Chris Hughes. Um estudo bancado por Sam Altman e liderado por Elizabeth Rhodes, por exemplo, acompanhou por três anos pessoas de baixa renda que receberam mil dólares por mês. Os resultados? Os participantes reduziram um pouco a carga de trabalho, e a maior parte do dinheiro foi para necessidades básicas.
Na Bahia, o debate sobre como a RBU e a Inteligência Artificial podem redesenhar o cenário econômico e social é fundamental. As consequências para o mercado de trabalho e a urgência de políticas públicas que se adaptem a essa nova era tecnológica exigem atenção e aprofundamento contínuos.