O Telescópio Horizonte de Eventos (EHT) divulgou novas imagens do buraco negro supermassivo M87*. Elas mostram uma inversão na polarização entre 2017 e 2021 e, pela primeira vez com o EHT, registram a base do jato de partículas ligada ao anel brilhante que envolve o horizonte de eventos.
O que os dados revelaram
Em 2017, o plasma magnetizado do anel girava em um sentido, estabilizou em 2018 e, em 2021, assumiu um padrão em espiral no sentido oposto. Apesar dessa reversão na polarização, o tamanho do anel permaneceu praticamente o mesmo — um resultado consistente com a Teoria da Relatividade Geral. As imagens foram publicadas na edição de agosto da revista Astronomy & Astrophysics e a galáxia M87 está a cerca de 55 milhões de anos‑luz da Terra.
Por que isso surpreende? — Foi totalmente inesperado, segundo Jongho Park, da Kyunghee University (Coreia do Sul).
Por que importa
Os cientistas acreditam que a inversão pode refletir mudanças na estrutura magnética do plasma, possivelmente combinadas com efeitos externos ainda não totalmente compreendidos. Além disso, a identificação da base do jato — fluxos de partículas que viajam a velocidades próximas à da luz — é importante porque esses jatos injetam muita energia no meio ao redor e influenciam a evolução das galáxias.
— O que chama a atenção é que o tamanho do anel se manteve estável enquanto o padrão de polarização mudou muito, destacou Paul Tiede, co‑líder da equipe e astrônomo do Center for Astrophysics | Harvard & Smithsonian.
Melhorias na rede e nos dados
A nitidez das imagens de 2021 se beneficiou da entrada do Kitt Peak (Arizona, EUA) e do NOEMA (França). Hoje a colaboração reúne 25 telescópios na Terra e no espaço, o que permitiu reconstruir com mais detalhes as propriedades polarizadas do anel.
— Esses resultados mostram como o EHT está se tornando um observatório completo, capaz de produzir imagens inéditas e construir uma compreensão coerente da física dos buracos negros, disse Mariafelicia De Laurentis, cientista do EHT e astrônoma da Universidade de Nápoles Federico II (Itália).
Os pesquisadores informaram que futuras imagens devem ganhar ainda mais detalhe com melhorias previstas em instrumentos‑chave como o Greenland Telescope e o James Clerk Maxwell Telescope. Conforme explicaram, avanços em instrumentação, novos telescópios e algoritmos de processamento se combinaram para permitir esses achados.
— Ano após ano aprimoramos o EHT — com novos telescópios, instrumentação atualizada e algoritmos inovadores — explicou Michael Janssen, co‑líder do projeto e pesquisador da Universidade Radboud (Holanda).
Divulgação e próximos passos
As descobertas estão sendo incorporadas a iniciativas de divulgação e educação científica na Bahia, com parcerias entre universidades locais, escolas e organizações do terceiro setor para ampliar o acesso aos resultados e ao debate sobre astrofísica.
Os estudos e imagens agora divulgados servirão de base para investigações complementares nos próximos anos e para o acompanhamento temporal das mudanças de polarização em M87*, com novos conjuntos de dados e aperfeiçoamento das técnicas de imagem do EHT.