Uma ferramenta de inteligência artificial capaz de antecipar áreas com risco de desmatamento na Amazônia em até 15 dias começou a operar na plataforma de dados geográficos TerraBrasilis, mantida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Batizada de Deforestation Prediction System, a tecnologia surge como aposta para aumentar a eficiência da fiscalização diante de um problema histórico: mais de 50 milhões de hectares de vegetação perdidos na região nos últimos 40 anos.
O professor Raul Queiroz Feitosa, da PUC-Rio, descreve o sistema como uma ferramenta de apoio a decisões estratégicas de fiscalização e prevenção — pensada para reduzir deslocamentos desnecessários e concentrar operações nos pontos de maior risco. A solução já está disponível para uso do Ibama e para prefeituras da região; municípios de vários estados, inclusive da Bahia, poderão integrar os alertas ao planejamento local.
Como funciona
Segundo a equipe por trás do projeto, o modelo foi treinado com a vasta base histórica da Amazônia Legal disponibilizada pelo INPE, incluindo plataformas de sensoriamento remoto como PRODES e DETER. Em vez de olhar apenas para onde já houve corte, ele combina diferentes sinais para antecipar onde o desmatamento pode ocorrer.
- Identificação de áreas com risco de corte ilegal;
- Detecção de focos de incêndio;
- Monitoramento de processos de degradação que antecedem a derrubada.
Os desenvolvedores afirmam que a novidade pode reduzir em cerca de 75% a 80% os erros de previsão em relação ao modelo anterior. Ainda assim, é cedo para medir efeitos concretos sobre as taxas de desmatamento a médio e longo prazo, porque fatores externos e complexos influenciam muito esses números.
«A base do modelo está em identificar fatores ou condições mais relacionadas ao desmatamento iminente, de modo que possam antecipar a sua ocorrência», disse Raul Queiroz Feitosa, da PUC-Rio. «Os próximos 12 meses serão decisivos para avaliar como ela reflete nos índices de desmatamento».
A ferramenta seguirá integrada ao TerraBrasilis e ficará disponível para órgãos federais e prefeituras interessadas, com acompanhamento técnico para aferir sua eficácia nos meses seguintes. Na prática, é um sinal a mais no mapa — cabe agora transformar esse sinal em ação efetiva no campo.
Será que, com esse apoio, a fiscalização conseguirá antecipar e evitar novas áreas de perda? Nos próximos meses teremos indicativos mais claros sobre o impacto dessa tecnologia na proteção da floresta.