A gripe aviária, também conhecida como influenza aviária, é uma enfermidade viral infecciosa que historicamente afeta aves silvestres e domésticas. Contudo, desde seu surgimento inicial no sudeste asiático em 1996, a patologia tem demonstrado capacidade de disseminação para outras espécies.
Dados recentes da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), divulgados pelo Ministério da Saúde, indicam que desde 2022, surtos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) foram identificados em mamíferos selvagens. Registros abrangem países como Argentina, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos e México, sinalizando uma expansão da doença para além do ambiente aviário.
Mamíferos vulneráveis à infecção
A influenza aviária, causada por cepas do vírus influenza A, como os subtipos de alta patogenicidade H5N1 e H7N1, pode ser letal em poucos dias para os animais infectados. Diversos mamíferos, tanto selvagens quanto domésticos, já apresentaram casos da doença:
- Cães: Embora raro, cães podem contrair o vírus. Um artigo do American Kennel Club sugere que o subtipo H5N1, propenso a mutações eficientes, pode adquirir novas estruturas entre hospedeiros. A veterinária Amy Attas, de Nova York, afirma:
“Cães não estão entre os mamíferos com maior representatividade em casos de gripe aviária. O vírus pode se espalhar entre animais selvagens, mas há relatos extremamente esporádicos de cães infectados.”
- Gatos: Felinos são suscetíveis ao H5N1, especialmente por exposição a aves doentes ou mortas, consumo de aves cruas infectadas ou ingestão de leite cru. Em 2023, um surto de H5N1 na Polônia resultou na morte de 25 dos 29 gatos testados positivos, de um total de 46 animais investigados, conforme o Instituto Butantan.
- Raposas: A alimentação de carcaças de aves infectadas é um fator de risco. Um estudo no PubMed Central demonstrou que raposas que se alimentaram de aves infectadas puderam disseminar o vírus por até cinco dias sem desenvolver sintomas graves. Em 2023, a Agência de Saúde Animal e Vegetal do Reino Unido detectou cepas de H5N1 nessas espécies.
Surtos em leões-marinhos e cabras
O vírus da gripe aviária também impactou grandes mamíferos e animais de criação:
- Leões-marinhos: Em 2023, o Brasil registrou um surto do tipo H5N1 que levou à morte de aproximadamente 900 leões-marinhos nas regiões Sul e Sudeste. Helena Lage Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), coordenou um estudo que indicou a transmissão do vírus entre esses animais:
“Além desta identificação, fizemos a caracterização molecular do vírus e identificamos que as sequências se agruparam com as de outros animais silvestres da América do Sul, especialmente de leões-marinhos do Chile e Peru, sugerindo uma transmissão do vírus entre estes animais.”
- Cabras: Um caso de IAAP foi confirmado em 2024 em um cabrito nos Estados Unidos, após investigações sobre mortes incomuns de cabras recém-nascidas em uma fazenda de aves. No local, aves e cabras compartilhavam os mesmos ambientes, incluindo uma fonte de água coletiva, uma das principais vias de contágio da gripe aviária, que ocorre por meio de contato com saliva e fezes de animais infectados.