O Google está utilizando uma parte de seu vasto acervo de mais de 20 bilhões de vídeos do YouTube para aprimorar seus modelos de inteligência artificial, como o Gemini e o gerador audiovisual Veo 3. A confirmação da empresa à CNBC reacende o debate sobre propriedade intelectual e o uso de conteúdo digital para alimentar tecnologias avançadas sem consentimento direto dos criadores.
A gigante da tecnologia afirmou que apenas um subconjunto da biblioteca do YouTube é empregado nesse treinamento e que são respeitados os acordos já existentes com os produtores de conteúdo. No entanto, especialistas do setor alertam para potenciais violações de direitos autorais e a criação de materiais “sintéticos” que replicam obras originais sem a devida atribuição ou compensação financeira.
Preocupações de Criadores e Análises Técnicas
Apesar da justificativa do Google de que o uso de conteúdo da plataforma para o aprimoramento de produtos de IA é uma prática antiga, muitos criadores de conteúdo e empresas de mídia desconheciam que seus vídeos serviam a esse propósito. Atualmente, não há uma opção clara para impedir que seus materiais sejam utilizados especificamente para o treinamento de modelos da própria empresa.
Críticos da prática apontam que esse processo de treinamento pode capacitar a IA a gerar conteúdo que se assemelha de forma significativa a produções humanas, sem oferecer crédito ou pagamento aos autores originais. Ferramentas de análise, como o Trace ID, já indicaram uma sobreposição considerável entre vídeos criados pelo Veo 3 e materiais autênticos de criadores. Em um dos casos, um áudio gerado pela IA atingiu 90 pontos em uma escala de 0 a 100 em similaridade com o conteúdo de Brodie Moss.
Divisão de Opiniões e Cenário Regulatório
Entre os criadores de conteúdo, as opiniões se dividem. Enquanto parte da comunidade vê a inteligência artificial como uma evolução tecnológica inevitável, outros manifestam grande preocupação com o uso não autorizado de suas obras e o risco de que a IA possa, futuramente, substituir profissionais do setor. Atualmente, o YouTube disponibiliza ferramentas limitadas para denúncias de uso indevido de imagem, mas estas se aplicam apenas a empresas externas, não ao próprio Google.
O cenário legal em torno da propriedade intelectual e da inteligência artificial está em constante desenvolvimento. Ações judiciais, como as movidas por grandes estúdios como Disney e Universal contra geradores de imagens de IA, exemplificam a crescente pressão por uma regulamentação mais clara e robusta sobre o uso de materiais protegidos por direitos autorais no contexto das novas tecnologias.