Imagine gelo gerando eletricidade. Quem diria que algo tão comum como o gelo pudesse produzir carga elétrica? Parece estranho, mas é exatamente isso que uma equipe do Instituto Catalão de Nanociência e Nanotecnologia (ICN2), ligado à Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), mostrou em um estudo publicado na Nature Physics. O trabalho foi realizado em Barcelona, Espanha, em colaboração com a Universidade Xi’an Jiaotong, na China, e a Universidade Stony Brook, no estado de Nova York (EUA).
O que descobriram?
Os pesquisadores demonstraram que o gelo se comporta como um material flexoelétrico: ele gera carga elétrica quando é submetido a uma deformação não homogênea — por exemplo, ao dobrar uma placa de gelo. Em temperaturas muito baixas também apareceu ferroeletricidade, enquanto a flexoeletricidade foi observada em condições próximas de 0 °C.
‘Descobrimos que o gelo gera carga elétrica em resposta ao estresse mecânico em todas as temperaturas’, disse o Dr. Xin Wen, do Grupo de Nanifísica de Óxidos do ICN2, e um dos autores do estudo.
Como demonstraram?
No experimento, a equipe mediu o potencial elétrico gerado ao flexionar uma placa de gelo. A deformação cria um gradiente: um lado fica comprimido e o outro esticado, o que favorece a separação de cargas positivas e negativas na superfície. Os valores medidos coincidiram com aqueles observados em colisões de partículas de gelo durante tempestades.
Os autores comparam esse comportamento a materiais já usados na indústria, como o dióxido de titânio, empregado em sensores e capacitores.
‘Durante nossa pesquisa, medimos o potencial elétrico gerado pela flexão de uma placa de gelo. Os resultados correspondem aos observados em colisões de partículas de gelo em tempestades’, disse Gustau Catalán, professor do ICREA e líder do Grupo de Nanofísica de Óxidos do ICN2.
Por que isso importa?
A equipe relaciona esse mecanismo às possíveis origens dos raios: a carga acumulada nas nuvens pode surgir não só de colisões entre partículas, mas também de deformações não homogêneas do próprio gelo. Ainda não há aplicações tecnológicas imediatas, mas a descoberta abre caminho para pensar no gelo como um possível gerador de energia em dispositivos futuros e para entender melhor os processos elétricos na atmosfera.