Cientistas investigam um fungo preto, o Cladosporium sphaerospermum, encontrado nas ruínas do reator 4 em Chernobyl, na Ucrânia, local do maior desastre nuclear da história. Este organismo, capaz de prosperar em níveis de radiação letais para outras formas de vida, tem despertado grande interesse devido ao seu potencial em processos de biorremediação, que utilizam seres vivos para reduzir a contaminação ambiental.
A presença do fungo foi notada em paredes internas do reator, onde os níveis de radiação eram intensos. Diferentemente da maioria dos seres vivos, a radiação gama serve como fonte de energia para o C. sphaerospermum, conforme destacado em reportagem da Forbes. Outras espécies de fungos escuros, como Wangiella dermatitis e Cryptococcus neoformans, também demonstram essa capacidade, utilizando melanina para converter radiação em energia química, impulsionando seu crescimento mesmo em ambientes extremamente hostis.
Radiossíntese: Um Mecanismo Inovador
O fenômeno observado nesses fungos é análogo à fotossíntese, mas, em vez de luz, a fonte de energia é a radiação. Este processo foi denominado radiossíntese, uma descoberta que impulsiona pesquisas nas áreas de bioquímica e radiação. Enquanto em humanos a melanina oferece proteção contra a radiação ultravioleta (UV), nos fungos ela atua como um catalisador na conversão da radiação gama em energia química.
Um estudo publicado na revista PLOS ONE em 2007 analisou o comportamento do C. sphaerospermum em ambientes radioativos e não radioativos. Os resultados foram surpreendentes: os fungos apresentaram um crescimento acelerado em regiões com alta radiação. Essa constatação contribuiu significativamente para redefinir a compreensão sobre os extremófilos, que são organismos com a habilidade de sobreviver e se desenvolver em condições ambientais extremas, como baixas temperaturas, alta salinidade e acidez.
Aplicações Promissoras
O potencial dos fungos radiotróficos para a biorremediação oferece alternativas inovadoras aos métodos tradicionais de limpeza de áreas contaminadas, como Chernobyl. Pesquisas recentes indicam que vastas extensões de terra na zona de exclusão da usina poderiam, no futuro, ser reintroduzidas para o cultivo agrícola com segurança.
Além da descontaminação terrestre, o C. sphaerospermum tem sido objeto de estudos na Estação Espacial Internacional (ISS) para avaliar seu papel na proteção de astronautas contra a radiação cósmica. Os dados preliminares sugerem que esses fungos poderiam, inclusive, ser uma fonte segura de alimento para exploradores espaciais. Na Terra, as propriedades de robustez e resiliência genética desses organismos abrem caminho para avanços na biotecnologia e na agricultura, com a possibilidade de desenvolver culturas mais resistentes a climas adversos.