Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) acompanharam a presença da anta‑brasileira (Tapirus terrestris) na Mata Atlântica entre 2014 e 2019. O estudo analisou 42 paisagens no estado de São Paulo, usando armadilhas fotográficas, mapas de uso e cobertura do solo e imagens de satélite.
Fragmentação importa
Não foi só a quantidade de floresta que determinou a presença das antas: o que realmente fez diferença foi como essa floresta está distribuída. Quanto mais fragmentada e isolada a vegetação, menor a probabilidade de registrar indivíduos da espécie nas áreas analisadas.
“O que mostramos neste estudo é que importa muito o arranjo desses fragmentos. Se estão próximos entre si ou se há um tamanho mínimo adequado, as chances de encontrar a espécie aumentam. À medida que a paisagem se fragmenta, a espécie some”, disse André Regolin, pesquisador da Unesp e primeiro autor do estudo.
Funções ecológicas e alcance
As antas atuam como dispersoras de sementes grandes, ajudam na regeneração da vegetação e contribuem para a manutenção do estoque de carbono — funções que ficam mais restritas com a destruição da Mata Atlântica. Embora a espécie ocorra em vários biomas brasileiros — Caatinga, Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Cerrado —, o estudo focou nas áreas interioranas da Mata Atlântica, onde a vegetação vem sendo desmatada desde o período colonial e restaram poucos fragmentos.
Ameaças indiretas
Além da perda direta de habitat, os pesquisadores apontaram efeitos indiretos que ampliam os riscos para as antas:
- o aumento de rodovias que cortam áreas naturais, elevando os casos de atropelamento;
- a caça, que representa outra ameaça significativa nas paisagens fragmentadas.
Medidas recomendadas
Para tentar reverter a tendência de desaparecimento da anta nas áreas interioranas da Mata Atlântica, os autores sugerem ações práticas e direcionadas:
- aproximar fragmentos e criar conectividade entre eles;
- restaurar áreas degradadas situadas entre fragmentos;
- priorizar intervenções que permitam o efeito de resgate, quando populações saudáveis sustentam outras em declínio.
Essas recomendações aparecem como medidas prioritárias para manter populações viáveis da anta‑brasileira na Mata Atlântica interiorana.

