É inegável que a inteligência artificial tem transformado a forma como interagimos com o mundo digital. Chatbots como o ChatGPT e o Copilot se tornaram ferramentas poderosas, mas essa interação intensa tem levantado uma questão séria: e se o uso excessivo de IA começar a afetar a nossa saúde mental? Há relatos preocupantes de pessoas que, depois de passar horas a fio conversando com esses sistemas, parecem estar perdendo o contato com a realidade. Este fenômeno, que na internet ganhou o nome informal de “psicose de IA”, não é um termo clínico reconhecido, mas os comportamentos que descreve são tão alarmantes que acenderam um sinal de alerta entre os especialistas.
O Que É a “Psicose de IA”?
Especialistas em saúde mental, em conversas com o jornal The Washington Post, explicaram o que realmente está por trás do termo “psicose de IA”. Basicamente, ele surgiu para descrever situações em que alguns usuários começam a desenvolver crenças falsas, ideias de grandeza ou até episódios paranoicos depois de muitas horas interagindo com os chatbots. Mesmo sem um diagnóstico formal, há um consenso de que precisamos investigar esses casos a fundo.
“O fenômeno é tão novo e está acontecendo tão rapidamente que simplesmente não temos evidências empíricas para ter uma compreensão sólida do que está acontecendo”, comentou **Vaile Wright**, diretor sênior de inovação em saúde da Associação Americana de Psicologia, ao Washington Post. Essa gravidade levou a associação a reunir um painel de especialistas para discutir como a inteligência artificial pode (ou não) ser usada em terapias.
Impactos Reais e a Fragilidade Humana
Os efeitos desse uso prolongado de chatbots podem ser devastadores para uma pequena parcela de usuários. A revista Time documentou casos extremos, incluindo perda de empregos, o fim de relacionamentos e, tragicamente, em algumas situações, até mortes. Isso sugere que a IA pode, sim, “desencadear ou agravar sintomas psicóticos em algumas pessoas”. No entanto, nem todos concordam com o nome “psicose de IA”. O Dr. **James MacCabe**, especialista em psicose do King’s College de Londres, aponta que o termo geralmente engloba um espectro mais amplo de sintomas, como pensamento desorganizado, alucinações e delírios. No contexto da IA, ele observa que os problemas se manifestam predominantemente como delírios isolados, e não como uma psicose completa.
Psiquiatras já estão identificando quem está mais propenso a esses problemas. **Keith Sakata**, psiquiatra da Universidade da Califórnia, por exemplo, revelou que internou cerca de **doze pessoas** por psicose ligada a interações intensas com a IA. Pessoas com histórico de uso de drogas, traumas, privação de sono, febre ou esquizofrenia são consideradas mais vulneráveis. O psicoterapeuta **Kevin Caridade** faz um alerta importante: buscar na IA a validação para pensamentos prejudiciais ou negativos pode ser o começo de um ciclo perigoso e incontrolável. E o mais difícil, como destaca o Dr. James MacCabe, é que a pessoa delirante não percebe que está delirando:
“Quando as pessoas desenvolvem delírios, elas não percebem que são delírios. Elas acham que é a realidade”, explica o Dr. **James MacCabe**.
Por isso, o apoio da família é fundamental. Ficar atento a mudanças de humor, sono ou comportamento social é crucial para buscar ajuda profissional. E, atenção: essa ajuda deve vir de um especialista, nunca da própria inteligência artificial.
Empresas Agem para Minimizar Riscos
Diante dessas crescentes preocupações, as empresas de tecnologia não ficaram paradas. A **Meta**, por exemplo, anunciou que os pais poderão definir limites de tempo para o uso de IA nas contas de adolescentes no Instagram. A **OpenAI**, criadora do ChatGPT, garantiu que está investindo para melhorar o comportamento do seu chatbot. Já a **Anthropic**, responsável pelo Claude, atualizou suas diretrizes e fez uma parceria com a **ThroughLine**, uma empresa que oferece suporte em crises para diversas plataformas.
A discussão sobre o uso responsável da inteligência artificial na saúde mental está apenas começando. Com painéis de especialistas, como o organizado pela Associação Americana de Psicologia, e as salvaguardas implementadas pelas empresas, vemos que a busca por um equilíbrio entre os benefícios e os riscos da IA para a população é uma jornada contínua. É um lembrete de que, por mais avançada que a tecnologia seja, a nossa saúde mental sempre vem em primeiro lugar.