Um estudo publicado no periódico Astronomy & Astrophysics e disponibilizado no servidor de pré-impressão arXiv sugere algo curioso: planetas com potencial para abrigar vida podem ser mais comuns nas bordas da Via Láctea — um achado relevante até para leitores na Bahia.
O que os pesquisadores fizeram
Os cientistas simularam a evolução da galáxia em dois cenários: um considerando a migração estelar e outro sem ela. Pense na migração como pessoas trocando de bairro ao longo do tempo; estrelas também se deslocam, e isso muda o ambiente em que planetas se formam. As modelagens levaram em conta a distribuição de elementos pesados e a dinâmica do disco galáctico.
Principais resultados
Segundo os modelos, a movimentação das estrelas teve um papel importante. A migração aumentou em até cinco vezes a probabilidade de uma estrela abrigar planetas rochosos com potencial de habitabilidade nas regiões exteriores da galáxia, quando comparada ao cenário sem migração. Em contraste, nas áreas mais internas, a presença de gigantes gasosos tende a atrapalhar a formação desses mundos rochosos.
Os autores também ampliaram a ideia da Zona Habitável Galáctica (GHZ) — um conceito que leva a noção de zonas favoráveis à vida, já usada para sistemas estelares desde os anos 1950, para uma escala da própria galáxia desde a década de 1980. A GHZ expandida inclui regiões ricas em elementos como ferro, silício e oxigênio, essenciais para formar planetas terrestres, mas ainda exclui o centro galáctico por conta de eventos extremos que tornam a região menos favorável.
Impacto para missões futuras
Os resultados podem orientar onde mirar na busca por exoplanetas e como projetar instrumentos. Entre os projetos citados estão:
- PLATO (ESA) — prevista para 2026, vai monitorar cerca de um milhão de estrelas pelo método de trânsito.
- Ariel (ESA) — prevista para 2029, com foco em observar atmosferas e composições de pelo menos mil exoplanetas.
- LIFE — iniciado em 2017, projeto voltado a estudar atmosferas de planetas terrestres fora do Sistema Solar em busca de biomarcadores.
Os autores dizem que esses achados podem ajudar a escolher alvos e a orientar o desenho de instrumentos em missões que busquem sinais de ambientes favoráveis à vida além do nosso Sistema Solar. Afinal, quem imaginaria que as bordas da galáxia poderiam ser tão promissoras?