Um estudo publicado na Nature mostra que Xangai está afundando mais rápido do que se pensava, enquanto o nível médio do mar sobe em ritmo incomum nos últimos milhares de anos.
O que isso representa para quem mora na cidade e para quem depende dos seus portos? Resposta curta: risco real para infraestrutura e para cadeias de abastecimento globais.
Subida do mar
Pesquisadores do Reino Unido, da China e dos Estados Unidos constataram que o nível médio do mar aumentou cerca de 1,5 milímetro por ano desde 1900. Esse avanço foi impulsionado pela expansão térmica da água e pelo derretimento de geleiras e mantos de gelo, e a taxa atual provavelmente superou a de qualquer outro século nos últimos quatro milênios.
Por que Xangai afunda
Xangai foi erguida sobre solo deltaico macio, na foz do rio Yangtzé. O estudo indica que cerca de 94% do afundamento moderno na área é resultado de ações humanas, principalmente a extração de água subterrânea para usos industriais e domésticos. Na década de 1960, quando o bombeamento esteve no auge, a cidade chegou a afundar cerca de 10 centímetros por ano, e algumas áreas acumularam mais de 1 metro de subsidência no último século.
Impactos e custos
O deslocamento relativo entre o nível do mar e o terreno aumentou a exposição a enchentes, tempestades e à elevação do lençol freático, ameaçando infraestrutura, moradias e operações portuárias. O estudo cita outras metrópoles deltáicas vulneráveis, como Shenzhen e Hong Kong, e cidades costeiras asiáticas como Jacarta e Manila — a degradação nessas áreas pode interromper cadeias de suprimentos internacionais e afetar portos e exportadores, inclusive no Brasil, em estados como a Bahia.
Em termos econômicos, os autores estimaram perdas acumuladas de cerca de US$ 3 bilhões em Xangai entre 2001 e 2020, enquanto o prejuízo médio anual nacional ficou em torno de US$ 1,5 bilhão, atribuídos à extração excessiva de água e aos efeitos das mudanças climáticas. Essas perturbações podem elevar custos de frete e provocar atrasos nas linhas de abastecimento.
- Taxa média do nível do mar: ~1,5 mm/ano desde 1900
- Responsabilidade humana na subsidência: 94%
- Subsídio histórico em Xangai: >1 m em um século; pico de ~10 cm/ano nos anos 1960
- Perdas estimadas: >US$ 3 bilhões em Xangai (2001–2020); US$ 1,5 bilhão/ano no país
Para mitigar o problema, as autoridades de Xangai apertaram regras sobre o uso de águas subterrâneas e implantaram projetos de recarga artificial de aquíferos. Essas medidas reduziram parte da taxa de subsidência, mas não eliminaram o risco combinado de terras em afundamento e mares em ascensão.
Em resumo: a combinação de mar em alta e terra que cede pode levar à submersão rápida de áreas costeiras densamente povoadas, comprometendo economias locais e fluxos do comércio global.