Estudantes de quatro municípios do interior da Bahia desenvolveram uma série de projetos inovadores com foco em sustentabilidade, meio ambiente e saúde. As iniciativas, que contam com o apoio da Secretaria da Educação do Estado (SEC) e orientação de professores, incluem desde a criação de bioplástico a partir de cactos até um óleo natural para auxiliar no alívio de sintomas de ansiedade. Ao todo, onze jovens estão envolvidos nessas pesquisas, que prometem impactos positivos para as comunidades locais.
Água tratada com plantas locais
Entre as pesquisas destacadas, duas estudantes de Lamarão, a cerca de 180 km de Salvador, desenvolveram um método eficaz para o tratamento de água barrenta. Anne Caroline e Clara Bispo utilizam sementes de moringa e casca do cacto mandacaru para purificar a água. A moringa atua na remoção de impurezas visíveis, enquanto o mandacaru age como agente bactericida, eliminando microrganismos. O professor Djanderson Nascimento, orientador do projeto, afirmou que os resultados dos testes são promissores:
“Os testes que realizamos indicaram que a combinação das sementes alcança resultados comparáveis aos coagulantes químicos tradicionais, como o sulfato de alumínio, com eficiências superiores a 90%.”
O objetivo é oferecer uma solução acessível para populações do semiárido nordestino, frequentemente dependentes de fontes de água como poços e açudes. A equipe planeja expandir as análises e divulgar amplamente a técnica.
Bioplástico de cacto e tinta sustentável
Em Andorinha, aproximadamente 425 km da capital baiana, as alunas Ana Clara Moreira e Emiliane Nery, do Colégio Estadual do Campo de Tempo Integral, transformaram o cacto facheiro, comum na Caatinga, em uma alternativa ao plástico convencional. O bioplástico desenvolvido por elas é flexível e tem em sua composição, além da planta, vinagre e glicerina. Enquanto o plástico comum leva séculos para se decompor, o bioplástico se integra à natureza em um período de 6 a 12 meses. Este projeto visa não apenas a preservação ambiental, mas também o fomento da economia regional, como explicou Ana Clara:
“Fomentar a geração de empregos na comunidade, uma vez que a ampliação do cultivo do facheiro poderá estimular atividades econômicas associadas, promovendo simultaneamente sua valorização e conservação.”
Pensando nas altas temperaturas da Bahia e na realidade de comunidades sem acesso a climatização, Lara Geovana, Melissa Fideles e Oliver Santos, estudantes de Luís Eduardo Magalhães, desenvolveram uma tinta térmica sustentável. Composta por goma arábica, argila branca e beterraba, a tinta reflete a luz solar, ajudando a diminuir o calor interno das residências. A escolha dos materiais priorizou o baixo custo e a fácil disponibilidade regional, garantindo acessibilidade para famílias de baixa renda. A iniciativa busca novas combinações e possíveis aplicações futuras para a tinta.
Saúde: spray anti-inflamatório e óleo para ansiedade
No campo da saúde, duas alunas do Colégio Estadual de Tempo Integral Antônio Batista, em Candiba, no sudoeste do estado, criaram um spray natural com propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e antimicrobianas. Iasmyn Vitória Teixeira Melo e Maria Luisa da Trindade Silva desenvolveram o produto a partir de mastruz, folhas de cânfora e cachaça, inspiradas em saberes populares de suas avós. Os testes com voluntários indicaram melhorias nas inflamações já no segundo ou terceiro dia de uso. As jovens planejam aprimorar a fórmula e estudar a inclusão de ingredientes como arnica e girassol, além da possibilidade de transformar o spray em uma pomada.
Ainda em Candiba, Emília Vieira e Tainara Rocha, da mesma instituição, focaram em um problema de saúde pública global: a ansiedade, que afeta cerca de 18 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). As estudantes desenvolveram um óleo corporal à base de capim-santo (lemongrass), reconhecido por seus componentes como o citral, que promove relaxamento. A orientadora Marciele de Oliveira destacou a relevância social do projeto:
“Essa disciplina propõe ao aluno a elaboração de um projeto voltado para sanar algum problema enfrentado na sociedade e no nosso cotidiano. Foi aí que pesquisamos e identificamos que a ansiedade é um problema atual, e muito perto dos estudantes. Também através da pesquisa, surgiu a ideia de um óleo corporal que fosse de baixo custo e acessível.”
Após testagens de 15 a 20 dias, voluntários relataram bem-estar, alívio dos sintomas da ansiedade e melhora na qualidade do sono. A pesquisa segue em fase de aperfeiçoamento.