O Programa Olhar Espacial, do Olhar Digital, voltou a discutir na última sexta-feira, dia 29 (o programa vai ao ar todas as sextas às 21h no YouTube). O tema foi a especulação de que o cometa interestelar 3I/ATLAS poderia ser uma tecnologia extraterrestre — hipótese levantada em parte por comentários de cientistas como o físico Avi Loeb.
De onde veio a suspeita?
A ideia ganhou força quando análises apontaram presença de dióxido de carbono (CO2) no entorno do cometa, algo que alguns interpretaram como indício de queima de combustível. Mas será que isso basta para pensar em uma nave alienígena? Especialistas convidados no programa fizeram questão de explicar por que essa ligação não é tão direta.
“É absolutamente infundado associar esse objeto, por mais exótico que ele se mostre inicialmente, a uma nave ou produto tecnológico”, disse Ary Martins, fundador e diretor do Clube de Astronomia Plêiades do Sul. Thiago Maia acrescentou que a queima de combustíveis produziria CO2 somente na presença de um agente oxidante — normalmente oxigênio — o que tornaria inviável carregar a enorme quantidade desse elemento em uma suposta espaçonave. Ele resumiu a questão de forma direta: seria preciso oxigênio em quantidades absurdas para essa hipótese funcionar.
O papel do níquel e das observações
Outra peça que reacendeu as especulações foi a detecção de níquel atômico no coma do 3I/ATLAS pelo Very Large Telescope (VLT), junto a sinais incomuns captados em infravermelho pelo Telescópio Espacial James Webb. Isso levou alguns a sugerirem uma “esfera de níquel” como proteção térmica. No entanto, especialistas lembraram que níquel isolado já foi visto em outros cometas e até no visitante interestelar anterior, o 2I/Borisov.
O apresentador e astrônomo Marcelo Zurita apontou uma explicação simples para a aparente ausência de ferro nas medições: o elemento pode simplesmente não ter evaporado o suficiente para ser detectado ainda. Pesquisadores também destacaram que o ambiente onde o corpo se formou pode explicar a composição observada — em regiões frias ricas em monóxido de carbono (CO), o níquel pode ficar aprisionado em complexos como o níquel tetracarbonil, que se decompõem sob luz ultravioleta liberando níquel atômico e CO.
Em tom mais leve, Thiago Maia comentou que a ideia de uma “nave de níquel” é improvável e até brincou que não seria preciso um ataque dramático para lidar com níquel puro — há reações químicas que que o afetam. O ponto foi usado para ilustrar que hipóteses extraordinárias exigem evidências robustas.
Conexões com sinais antigos e a avaliação final
Também apareceu na conversa a sugestão de ligação entre a trajetória do cometa, o famoso sinal de rádio “Uau!” detectado em 1977 e a direção para a qual a sonda Voyager I aponta. Ary Martins lembrou que a associação não se sustenta facilmente e citou estudos publicados em repositórios como o arXiv que oferecem explicações astrofísicas para o sinal de 1977, como passagem por nuvens de hidrogênio ou atividade de um magnetar.
O episódio trouxe ao estúdio Ary Martins, Thiago Maia e Cristóvão Jacques, e os especialistas reforçaram que, no momento, não há evidência convincente de que o 3I/ATLAS seja algo construído por inteligência alienígena. O veredito final depende de mais observações e análises espectroscópicas.
- O que ficou: sinais iniciais geraram hipóteses, mas especialistas consideram as ligações com tecnologia alienígena infundadas.
- Próximos passos: novas observações e espectroscopia devem esclarecer a verdadeira composição do cometa.