Uma recente pesquisa conduzida por cientistas brasileiros destaca a relevância dos corais subtropicais na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O estudo aponta que esses organismos marinhos podem desempenhar um papel crucial na remoção de gases que contribuem para o aquecimento global.
A investigação revelou que uma única variedade de coral, localizada no Arquipélago de Alcatrazes, no litoral sul de São Paulo, possui a capacidade de reter aproximadamente 20 toneladas de carbono por ano. Essa quantidade equivale às emissões geradas pela queima de cerca de 324 mil litros de gasolina.
Mecanismo de Absorção
Diferentemente de corais tropicais, que sob certas condições de luz e temperatura podem liberar mais carbono do que absorvem, a espécie analisada em Alcatrazes se distingue por não formar grandes estruturas de recife. Sua superfície rochosa, amplamente coberta por macroalgas, otimiza o processo de fotossíntese, resultando em uma maior captação de dióxido de carbono da atmosfera. Além disso, o carbono é armazenado de forma mineralizada, o que garante sua retenção por séculos ou até milênios.
As conclusões deste trabalho foram detalhadas em um artigo científico publicado na revista Marine Environmental Research.
Análise e Descobertas
Para o estudo, os pesquisadores examinaram exemplares do coral-cérebro, conhecido cientificamente como Mussismilia hispida. O esqueleto desses corais é majoritariamente composto por carbonato de cálcio (CaCO₃). Através de tomografias computadorizadas, foi possível quantificar a taxa de crescimento anual das colônias e, consequentemente, estimar a quantidade de carbono incorporada. O carbonato de cálcio, ao ser formado, contribui para a fixação do carbono que, de outra forma, poderia estar no ambiente na forma de gás carbônico (CO₂).
Cientistas ressaltam que os corais observados em Alcatrazes demonstram taxas de produção de elementos semelhantes às encontradas em ecossistemas como Abrolhos ou Fernando de Noronha, o que reforça a ideia de que a ausência de formação de recifes pode ser um fator determinante para sua alta capacidade de absorção. Segundo informações divulgadas pela Agência FAPESP, as razões pelas quais esses corais não se acumulam para formar recifes no entorno das ilhas do litoral paulista ainda não são completamente compreendidas.
Duas hipóteses principais são consideradas para a ausência de grandes recifes na região: uma chegada relativamente recente dos corais subtropicais, há cerca de dois a três mil anos, que não lhes teria conferido tempo suficiente para o desenvolvimento de estruturas maiores; ou a frequente incidência de tempestades na área, que podem desmantelar as colônias e impedir a consolidação de formações recifais de grande porte.