Desvendar os segredos da consciência humana? Essa jornada na neurociência parece gerar mais perguntas do que respostas firmes. “Na área da consciência, já existem tantas teorias que não precisamos de mais“, falou Oscar Ferrante, neurocientista da Universidade de Birmingham, ao The New York Times. Pense nisso: um estudo de 2021 contou 29 ideias diferentes sobre o tema!
Diante desse cenário, um grupo de cientistas teve uma ideia ousada em 2018. Liderados por Lucia Melloni, eles formaram o Consórcio Cogitate, reunindo 41 mentes brilhantes. A proposta? Uma “colaboração adversarial”, colocando teorias rivais frente a frente em um grande teste.
O Experimento Inovador
Sabe quando duas pessoas discordam sobre algo complexo? É mais ou menos o que eles fizeram. O consórcio escolheu duas gigantes para esse confronto científico:
- A Teoria do Espaço Neuronal Global, de Stanislas Dehaene, que sugere que a consciência aparece quando certas áreas do cérebro espalham informações sensoriais para todo lado.
- E a Teoria da Informação Integrada, de Giulio Tononi, que aposta que a consciência é fruto de um super processamento de informações em várias partes do cérebro que se juntam.
Por dois anos, o plano foi montado nos mínimos detalhes. A partir de 2020, 267 voluntários participaram em oito laboratórios pelo mundo. Eles jogaram videogames especiais para medir como percebiam as coisas, como notar um rosto aparecendo de repente na tela.
Para ter certeza dos resultados, usaram várias ferramentas de ponta:
- Eletrodos fininhos colocados temporariamente no cérebro de pacientes com epilepsia.
- Ressonância magnética funcional (fMRI) para ver o fluxo de sangue no cérebro.
- Magnetoencefalografia para captar os campos magnéticos cerebrais.
Resultados e Muita Controvérsia
Em 2022, veio a resposta. E não foi um nocaute para nenhuma das teorias. Os dados falaram que ambas acertaram algumas previsões, mas, olha só, também erraram em pontos importantes. “Ambas as teorias estão incompletas“, falou Ferrante.
Quando Melloni compartilhou esses achados em Nova York, em junho de 2023, a reação foi forte. O estudo, enviado para a revista Nature, recebeu várias críticas pesadas. Hakwan Lau, um neurocientista da Coreia do Sul com sua própria teoria, questionou publicamente se o experimento realmente testou as ideias como deveria.
A coisa esquentou! Um grupo de 124 especialistas chegou a classificar a Teoria da Informação Integrada como pseudociência, dizendo que suas conclusões pareciam sem sentido. Mesmo com toda essa discussão acalorada, alguns cientistas, como Seth, ainda veem valor em colocar teorias para se enfrentarem. Ele disse que o melhor que se pode esperar é que, talvez, outras pessoas mudem de opinião. O estudo pode não ter diminuído a lista de teorias sobre a consciência, mas mostrou que o debate sobre como nossa experiência do mundo surge é tão complicado quanto o próprio fenômeno.