Você sabia que mais de 5,5 milhões de crianças no Brasil não têm o nome do pai em suas certidões de nascimento? Este é um dado alarmante revelado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). E, mais do que um número, esta realidade tem fortes implicações emocionais e sociais.
Abandono paterno x aborto: Uma comparação polêmica
Nas redes sociais, surge uma analogia controversa: o abandono paterno comparado ao aborto feminino, legalizado no Brasil em contextos específicos como risco de morte da gestante, estupro e diagnóstico de anencefalia fetal. A escolha do termo “aborto” para caracterizar a ausência paterna tem como intuito gerar uma resposta emocional intensa na sociedade. Contudo, Thales Coutinho, docente do curso de Psicologia da Estácio, destaca que a expressão “abandono” é a mais precisa para representar essa situação.
O abandono paterno carrega consigo um fardo emocional que pode seguir essas crianças até a vida adulta. “Desconhecer as características de um pai que optou pelo distanciamento completo do filho, mesmo estando vivo, gera sentimentos de insegurança, revolta e até mesmo padrões disfuncionais de relacionamento, como o apego evitativo”, detalha Coutinho.
Apego evitativo: Entendendo o impacto psicológico
Com base na teoria do apego evitativo, criada pelo psicanalista inglês John Bowlby, a criança que sofre o abandono não necessariamente repetirá os mesmos comportamentos paternos na fase adulta. O especialista da Estácio menciona que, embora haja uma dificuldade maior em estabelecer uma família, devido ao temor de abandono, a reprodução exata do comportamento paterno não é uma constante, variando de acordo com características individuais e influências ambientais.
Buscando soluções: Conscientização e intervenção
A solução para esse cenário preocupante, segundo Coutinho, passa pela conscientização dos pais sobre as consequências jurídicas e psicológicas de seus atos. Uma estratégia possível é identificar semelhanças entre filho e pai, fortalecendo o vínculo e minimizando chances de afastamento. Contudo, quando a abordagem psicológica não surte efeito, é fundamental recorrer às vias legais.
Em uma era marcada por evoluções sociais e tecnológicas, torna-se imprescindível que tópicos como o abandono paterno sejam discutidos abertamente. Entender suas implicações e trabalhar para reverter esse quadro é não apenas um dever jurídico, mas também um compromisso com as futuras gerações do país.