Desde que foi identificado em 1º de julho, o cometa 3I/ATLAS tem chamado atenção de astrônomos e entusiastas. Não é todo dia que um visitante de fora do nosso sistema aparece para uma passagem tão próxima — e a comunidade científica tratou de observar cada detalhe.
O que o SPHEREx encontrou
Dados da missão SPHEREx, da NASA, mostraram uma coma extensa — cerca de 350 mil km — e rica em dióxido de carbono, envolvendo um núcleo composto por água congelada. As medições também indicaram uma quantidade reduzida de monóxido de carbono na nuvem de gás e poeira.
Carey Lisse, da Universidade Johns Hopkins, destacou que a composição do 3I/ATLAS não é tão diferente da observada em cometas do nosso Sistema Solar. Então, por que tanto interesse? A explicação mais aceita é que o objeto tenha passado por um aquecimento considerável em seu sistema de origem, o que pode ter alterado a relação entre CO2 e CO sem deixar seu restante químico muito distinto.
Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia, reforça a ideia: fora o fato de ser interestelar, o corpo contém os mesmos tipos de gases, poeira e água que já conhecemos — e, por isso, teria passado despercebido não fosse sua origem.
Imagens e observações
No dia do eclipse lunar total, em 7 de setembro, o astrofotógrafo Michael Jaeger registrou imagens profundas do cometa a partir da Farm Tivoli, na Namíbia. A sequência combinou exposições em diferentes filtros e revelou, pela primeira vez, uma cabeleira rica em gás com diâmetro aparente de cerca de 2 minutos de arco.
Configuração das exposições usadas por Jaeger:
- Azul: 14×120 s
- Verde: 4×120 s
- Vermelho: 4×120 s
A animação feita a partir dessas imagens mostrou o movimento do corpo no céu e foi compartilhada em plataformas de divulgação astronômica. Observações amadoras complementaram os levantamentos profissionais e ajudaram a detalhar a morfologia difusa da coma.
Origem e trajetória
Cientistas sugerem que o cometa pode ter se originado em regiões antigas da Via Láctea, possivelmente no chamado disco espesso, e que sua idade seja até o dobro da do Sistema Solar. O cometa passou pelo periélio em 29 de outubro; nos dias anteriores a essa data esteve no lado oposto ao Sol e, por isso, invisível desde a Terra.
Em novembro o objeto reapareceu, e em dezembro alcançou sua menor distância relativa ao planeta — estimada em torno de 270 milhões de km.
As equipes continuam a analisar os dados do SPHEREx e as imagens coletadas ao redor do mundo para entender melhor a história térmica e a dinâmica desse visitante interestelar. É um quebra‑cabeça que ainda promete revelar como eram outros cantos da nossa galáxia — e, ao mesmo tempo, nos lembra que o céu ainda guarda surpresas.