Em Paulo Afonso, na Bahia, foram relatados pacientes com a condição conhecida como CIPA — uma alteração que os deixou sem dor e sem suor. Essa combinação simples, na aparência, expôs crianças a lesões que passaram despercebidas e, em muitos casos, levou a complicações graves ainda na infância.
O que provoca
A CIPA está ligada a mutações no gene NTRK1, que produz o receptor TrkA. Esse receptor precisa se ligar ao fator de crescimento neural (NGF) para formar os nociceptores — os neurônios responsáveis por detectar dor e calor. Quando essa ligação falha, o corpo deixa de perceber estímulos dolorosos e também perde a capacidade de regular a temperatura pelo suor.
O que isso significa no dia a dia? Imagine não sentir uma fratura, uma queimadura ou uma infecção. Sem dor, feridas podem piorar sem que ninguém perceba. Sem suor, a criança corre maior risco de superaquecimento em ambientes quentes. Estudos também registraram sinais indiretos de desconforto, como febre persistente, agitação e mudanças no apetite e no sono, além de lesões indolores e osteólise em casos infantis.
Diagnóstico
O diagnóstico costuma acontecer na infância, quando os pais notam que a criança não reage a estímulos que normalmente causariam dor. Entre os exames indicados estão:
- teste genético para mutações em NTRK1;
- biópsia de pele e de nervos periféricos;
- testes de condução nervosa;
- avaliação da resposta autonômica, como sudorese e controle da temperatura.
Não há cura conhecida para a CIPA. O manejo se baseia em vigilância contínua e rotinas rigorosas para evitar danos silenciosos. O acompanhamento é multidisciplinar, envolvendo geneticistas, neurologistas, dermatologistas, ortopedistas, dentistas e psicólogos. Recursos práticos — por exemplo, alarmes, monitoramento da temperatura e aplicativos — podem ajudar nas tarefas do dia a dia.
Por ser uma condição autossômica recessiva, a transmissão exige duas cópias alteradas do gene — uma de cada progenitor. Pais portadores, mesmo sem sintomas, podem transmitir a alteração aos filhos.
Estas informações têm caráter informativo e não substituem a avaliação ou orientação de profissionais de saúde. Se houver suspeita ou preocupação, procure um atendimento médico especializado.