Pesquisadores do Reino Unido levantam a hipótese de que as quatro estações climáticas tradicionais podem não mais representar com precisão as realidades atmosféricas atuais. Um estudo recente, conduzido por geógrafos da University of York e da London School of Economics, sugere que as mudanças climáticas estão alterando profundamente os ritmos anuais da Terra, demandando uma nova interpretação do conceito de estações.
Apesar da inclinação do planeta e das variações naturais de temperatura serem a base física das estações, os cientistas apontam para uma “mudança conceitual” necessária para compreender o cenário prático. Eles argumentam que a experiência diária das pessoas com o clima hoje diverge do que era tradicionalmente classificado como primavera ou inverno, por exemplo, baseando-se em datas fixas ou padrões históricos.
Novas Categorias Climáticas
O estudo identifica quatro novas categorias de estações que estariam se manifestando em diversas partes do globo, refletindo a dinâmica climática alterada:
- Estações emergentes: Padrões sazonais inteiramente novos que não existiam anteriormente em determinadas localidades.
- Estações extintas: Períodos que desapareceram ou se tornaram irreconhecíveis devido às transformações climáticas.
- Estações arrítmicas: Caracterizadas por modificações na duração e no período esperado dos ciclos sazonais.
- Estações sincopadas: Apresentam variações irregulares na intensidade ou no comportamento das estações habituais.
Esses termos auxiliam na descrição de fenômenos já observados por populações em diferentes continentes.
Impactos Perceptíveis e Novos Riscos
Entre os exemplos concretos citados pelos pesquisadores está o aumento da duração do verão, que se torna mais quente e prolongado, enquanto os invernos se apresentam mais curtos e com temperaturas mais amenas. A primavera também tem seu início antecipado em muitas regiões. Além disso, eventos climáticos extremos, como a temporada de furacões e épocas de queimadas, agora se estendem por períodos mais longos do ano, por vezes, quase ininterruptamente.
Um caso notável é o surgimento da “estação da fumaça” no Sudeste Asiático. Em nações como Indonésia, Malásia e Singapura, a recorrência anual da poluição atmosférica causada por queimadas em áreas de turfa tropical levou a população a reconhecer esse fenômeno como um risco sazonal previsível. O que antes era um evento ambiental isolado, hoje impacta diretamente a saúde pública e impulsiona a adoção de tecnologias de filtragem de ar.
A iniciativa dos autores não visa abolir os conceitos clássicos de estações, mas sim flexibilizar a compreensão do clima baseada em experiências concretas. Essa adaptação pode capacitar as comunidades a responderem de forma mais eficaz aos desafios impostos pelo aquecimento global. O estudo completo foi detalhado na revista científica Progress in Environmental Geography.