Um novo estudo publicado na revista Cell mostrou que células‑tronco humanas envelheceram mais rápido e perderam parte da capacidade de regeneração quando foram expostas ao ambiente da Estação Espacial Internacional (ISS). A pesquisa foi conduzida pela Universidade da Califórnia em San Diego (UC San Diego) com amostras levadas em missões de reabastecimento da SpaceX.
Os pesquisadores cultivaram células‑tronco hematopoéticas — responsáveis pela renovação do sangue e pela defesa imunológica — em nanobioreatores a bordo da ISS, com monitoramento em tempo real apoiado por técnicas de inteligência artificial. Microgravidade e radiação cósmica agiram como um verdadeiro teste de estresse para as células.
Principais achados
O trabalho trouxe resultados que preocupam e que podem ser resumidos assim:
- as células ficaram mais ativas do que o esperado, consumindo energia de forma acelerada;
- perderam parte da capacidade de descanso e de regeneração;
- foram detectados danos no DNA e encurtamento dos telômeros, sinais associados ao envelhecimento precoce;
- observou‑se estresse mitocondrial, quadros inflamatórios e ativação de regiões do genoma ligadas ao envelhecimento e ao câncer.
Esses achados tornam missões espaciais longas — como uma viagem a Marte — especialmente arriscadas para a saúde dos astronautas. O estudo confirma resultados anteriores sobre alterações na expressão gênica, encurtamento de telômeros e mudanças na microbiota intestinal, e acrescenta que a reserva celular que sustenta a imunidade pode se esgotar em poucas semanas no espaço.
Uma boa notícia é que parte dos danos começou a regredir quando as células retornaram a um ambiente terrestre saudável, o que indica que intervenções médicas podem mitigar efeitos. Entre as abordagens apontadas como promissoras estão terapias celulares e estratégias de rejuvenescimento que, no futuro, poderiam proteger tripulações em missões prolongadas.
Os resultados devem interessar às comunidades científicas internacionais e a grupos no Brasil — inclusive na Bahia — e em outros países de língua portuguesa, porque tocam diretamente a biomedicina do envelhecimento e a segurança de futuras explorações espaciais.
Como garantir a segurança das próximas gerações de exploradores? Para a professora Catriona Jamieson, da UC San Diego, entender como as células‑tronco reagem ao ambiente espacial é fundamental para responder a essa pergunta e preparar defesas médicas antes das próximas missões.