Pesquisadores anunciaram a descoberta de um bumerangue esculpido em marfim de mamute e um osso de dedo humano, datados de aproximadamente 42 mil anos, em uma caverna na Polônia. Os achados, provenientes do período conhecido como Aurignaciano, levantam a hipótese de que ambos os itens estariam associados a rituais xamânicos realizados por povos que habitaram a Europa naquele tempo.
O bumerangue, encontrado na caverna Ob’azowa em 1985, foi reavaliado e agora é considerado o mais antigo já descoberto globalmente, com idade estimada entre 39.280 e 42.290 anos. Inicialmente, o artefato havia sido datado em 18 mil anos. Diferente da maioria dos bumerangues da Idade da Pedra, feitos de madeira, esta peça polonesa se destaca por ser integralmente composta de marfim. Simulações indicam que, semelhante ao bumerangue de Queensland, na Austrália, este artefato também não retornaria ao ser lançado.
Indícios de rituais pré-históricos
Próximo ao bumerangue, arqueólogos localizaram um osso de dedo humano, além de outros objetos característicos da cultura Aurignaciana. Esta proximidade levou à sugestão de que o bumerangue e o osso de dedo poderiam ter sido utilizados em cerimônias xamânicas. Essa interpretação é reforçada pela existência de arte rupestre em diversas partes da Europa que retratam mãos sem dedos, um tema que encontra paralelos em rituais de mutilação digital conhecidos em algumas culturas aborígenes australianas contemporâneas.
Sahra Talamo, uma das autoras do estudo publicado na revista PLOS ONE, explicou ao IFLScience que “sabemos das culturas aborígenes [australianas] hoje em dia que há uma espécie de ritual para cortar os dedos e isso levou o arqueólogo que escava o local a pensar que este é um objeto ritual em vez de uma arma de caça”.
A raridade de outras peças de marfim na caverna Ob’azowa sugere que o bumerangue não foi fabricado no local, mas transportado de outras regiões. Este fato indica que o objeto possuía um grande valor simbólico para os grupos humanos daquele período.
Detalhes do local da descoberta
Pawee Valde-Nowak, também autor do estudo, detalhou que o bumerangue foi encontrado em meio a uma dispersão de pedregulhos, alguns pesando cerca de 60 quilos, que foram levados para a caverna de um leito de rio próximo. Além disso, o local continha itens de significativa importância para as comunidades paleolíticas, como ornamentos feitos de presas de raposas do Ártico, assobios de conchas fósseis e artefatos de pedra provenientes de até 300 quilômetros de distância, assim como ocre.
“Tal combinação de elementos neste aglomerado deve ser tratada como evidência dos rituais do Homo sapiens primitivos, não apenas em termos de conhecimento de uma arma de arremesso, como um bumerangue”, afirmou Valde-Nowak.
Apesar das conclusões, a pesquisadora Sahra Talamo aponta que a ausência de outros bumerangues similares em sítios arqueológicos na Europa levanta questionamentos. A única explicação, segundo ela, seria a insuficiência de escavações em locais que poderiam revelar mais artefatos como este, ampliando o conhecimento sobre as práticas do Homo sapiens primitivo.