Salvador, na Bahia — Pesquisadores, montadoras e laboratórios de várias partes do mundo estão acelerando investimentos na chamada bateria de estado sólido. A promessa é grande: mais autonomia, menos risco de incêndio e recargas em minutos. Tudo isso faz com que muitos vejam essa tecnologia como o próximo salto para os carros elétricos.
O que muda na prática?
Em vez do eletrólito líquido inflamável usado hoje nas baterias de íons de lítio, as baterias de estado sólido usam um eletrólito sólido. Essa mudança abre espaço para aumentar a densidade de energia e reduzir peso — traduzindo em números: estimativas apontam para entre 600 e 1.000 quilômetros por carga e recargas que podem levar apenas alguns minutos, comparáveis ao tempo de abastecer um carro a gasolina.
Mas por que isso é possível? O avanço veio da identificação de materiais capazes de transportar íons eficientemente dentro de uma matriz sólida. Como resumiu o pesquisador Eric McCalla:
“Até 2010, a bateria de estado sólido era algo que seria incrível, se conseguíssemos fazê-la funcionar”, disse Eric McCalla.
Desafios na produção e escolha de materiais
O progresso na bancada é uma coisa; fabricar em escala comercial, outra bem diferente. Empresas já investiram bilhões na cadeia das baterias de íons de lítio, com linhas e processos montados ao longo de anos. Substituir tudo isso não é simples nem barato. Como observou o cientista Eric Wachsman:
“As empresas já investiram bilhões em infraestrutura de produção de baterias de íons de lítio e não querem simplesmente substituir tudo”, disse Eric Wachsman.
Há também uma escolha técnica delicada sobre qual material usar no eletrólito. De forma resumida:
- Compostos sulfetados superiônicos: alta condutividade iônica e boa compatibilidade com processos existentes, mas sensíveis à umidade — em contato com o ar podem liberar gás sulfídrico tóxico.
- Óxidos: mais estáveis e menos reativos com o ambiente, porém exigem processos de fabricação mais caros e complexos.
Prazo e impacto local
Pesquisadores e empresas têm dado prazos ambiciosos: demonstrações em protótipos de veículos até 2027 e tentativas de comercialização em larga escala por volta de 2030. Como apontou a cientista Jun Liu:
“Se você observar o que as pessoas estão dizendo, elas afirmam que vão tentar fazer demonstrações reais de protótipos de bateria de estado sólido em seus veículos até 2027, e vão tentar comercializá-las em larga escala em 2030”, disse Jun Liu.
Em Salvador e no resto da Bahia, observadores acompanham esses movimentos com atenção. Ganhos em autonomia e segurança podem facilitar a adoção de veículos elétricos, impactando frotas públicas e a rede de recarga — desde que o custo final da nova tecnologia se torne competitivo em relação às baterias atuais.
Em resumo: a tecnologia promete grandes vantagens no papel e já tem prazos claros para testes e possíveis lançamentos. O caminho para a indústria em escala, porém, depende de soluções para custos, materiais e adaptação das linhas de produção.

