Com o avanço de notificações de intoxicação por metanol associadas a bebidas alcoólicas adulteradas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acionou autoridades regulatórias de referência no exterior para viabilizar a importação do fomepizol, antídoto considerado padrão em intoxicações por álcoois tóxicos e ainda sem registro no Brasil. Em paralelo, o Ministério da Saúde estruturou um estoque estratégico de etanol farmacêutico para atendimento imediato na rede pública.
Segundo o Ministério da Saúde, foi instalada uma Sala de Situação para monitorar e coordenar a resposta nacional. Até 2 de outubro, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) havia recebido 59 notificações de possíveis casos no país: 53 em São Paulo (11 confirmados e 42 em investigação), cinco em investigação em Pernambuco e um no Distrito Federal. Há um óbito confirmado e outros sete em análise. Em 30 de setembro, o governo de São Paulo havia informado cinco mortes associadas aos casos sob investigação no estado.
Como medida preventiva, o Ministério da Saúde mapeou 604 farmácias de manipulação aptas a produzir etanol farmacêutico e anunciou compra emergencial de 150 mil ampolas, além de manter 4,3 mil ampolas já distribuídas a hospitais universitários e unidades do SUS. A pasta também formalizou pedido à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para doação imediata de 100 tratamentos de fomepizol e manifestou intenção de adquirir mais 1.000 tratamentos, enquanto a Anvisa publicou chamada internacional para identificar fornecedores do medicamento.
As autoridades intensificaram ações de fiscalização em estabelecimentos comerciais. Em São Paulo, operações resultaram em interdições de bares e apreensão de garrafas destiladas suspeitas de adulteração. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a origem do metanol e possíveis redes de distribuição ilícita. O governo estadual relata apreensões de bebidas e rastreamento de cadeias de fornecimento; ao mesmo tempo, as investigações federais e estaduais avaliam eventuais vínculos com falsificação e comércio clandestino, com versões divergentes sobre envolvimento do crime organizado, ponto ainda sob apuração.
A intoxicação por metanol é uma emergência médica. Os sintomas podem surgir entre 6 e 24 horas após a ingestão e incluem dor abdominal intensa, náuseas, tontura, visão turva ou perda da visão, podendo evoluir para cegueira, coma e óbito. Em casos suspeitos, a orientação é buscar atendimento imediato e contatar os serviços especializados: Disque-Intoxicação/Anvisa (0800 722 6001), CIATox regionais e o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (0800 771 3733).
No momento, o Brasil mantém o uso de etanol farmacêutico como antídoto disponível, enquanto mobiliza a importação do fomepizol com apoio de agências reguladoras estrangeiras e da OPAS. O Ministério da Saúde determinou a notificação imediata de casos suspeitos por todas as unidades do SUS e reforçou orientações clínicas em nota técnica às redes de urgência e emergência.