Um levantamento citado pela BBC mostrou que, até 2029, cerca de US$ 3 trilhões podem ser investidos globalmente em data centers projetados para inteligência artificial. O estudo do Morgan Stanley sugere que aproximadamente metade desse valor seria usada na construção das instalações e a outra metade no hardware de ponta — incluindo gabinetes de chips da Nvidia avaliados em cerca de US$ 4 milhões cada.
O que muda nesses centros
Esses data centers não são como os tradicionais. Eles concentram muito mais poder de processamento em espaços compactos e consomem energia numa escala muito superior. Para treinar Modelos de Linguagem Grande (LLMs) é preciso que os chips fiquem bem próximos — para cortar atrasos microscópicos no fluxo de dados. Pense nisso como corredores muito curtos entre trabalhadores que precisam trocar informações em alta velocidade.
Essa concentração gera picos de demanda elétrica que, em alguns momentos, se comparam ao consumo simultâneo de milhares de casas. Além da energia, o resfriamento também vira um grande consumidor de água — outra fonte de preocupação para quem mora perto dessas instalações.
“Uma carga de trabalho singular nessa escala é inédita — é um desafio de engenharia tão extremo quanto o programa Apollo”, disse Daniel Bizo, do The Uptime Institute.
Gigantes como Microsoft, Google e AWS estão na frente da construção dessas instalações e também têm investido em soluções energéticas para sustentá‑las. O relatório registrou várias estratégias adotadas pelas empresas:
- apostas em energia limpa;
- uso de fontes nucleares em alguns projetos;
- instalação de turbinas a gás para garantir fornecimento estável em picos de demanda.
Essas escolhas energéticas, porém, esbarram em resistências locais. Comunidades e autoridades em lugares como a Virgínia, nos EUA, e Lincolnshire, no Reino Unido, têm questionado impactos ambientais e o uso intensivo de recursos como água.
“O investimento precisa gerar retorno, ou o mercado se corrigirá”, disse Zahl Limbuwala, da DTCP. “A IA terá mais impacto do que tecnologias anteriores, incluindo a internet. É possível que precisemos de todos esses gigawatts.”
Analistas consultados pelo relatório alertam que o boom dificilmente se manterá sem retorno econômico sustentável. Há limites operacionais e ambientais claros para estruturas tão hipercompactas que consomem energia em escala inédita. Mesmo assim, a projeção até 2029 mantém o cenário de grandes desembolsos e aponta a expansão da infraestrutura energética e debates públicos sobre o uso de recursos como consequência inevitável.
Será que a corrida por capacidade vai andar lado a lado com preocupações ambientais e viabilidade econômica? A aposta é grande — e as perguntas, também.