Um novo grupo de aplicativos que usa inteligência artificial passou a oferecer fotos realistas de férias e de ostentação, permitindo que pessoas criem imagens suas em praias paradisíacas, ao volante de carros caros ou em compras de grifes. Essas ferramentas ganharam visibilidade nas lojas de apps, como a App Store e o Google Play, ao juntar escapismo, autoajuda e tecnologia.
Pesquisadores e desenvolvedores repararam no fenômeno. O pesquisador Tim Wijaya, que trabalhou com a OpenAI para estudar o uso do ChatGPT na Indonésia, encontrou em grupos do Facebook com até 30 mil membros relatos de pessoas de baixa renda compartilhando versões idealizadas de si mesmas geradas por IA. “É triste e fascinante ao mesmo tempo”, disse Tim Wijaya.
O caso Endless Summer
Um dos apps mais citados foi o Endless Summer, criado por Laurent Del Rey, designer que já atuou na Meta. O aplicativo pedia três fotos do usuário e gerava “fotos de férias fictícias” em destinos variados — em testes, produziu imagens ambientadas em Tóquio, Nova York e Rio de Janeiro. Visualmente atraentes, as imagens ainda exibiam traços artificiais típicos de conteúdos gerados por IA.
O serviço oferecia um pacote gratuito com três imagens e planos pagos, por exemplo:
- US$ 3,99 por 30 fotos
- US$ 17,99 por 150 fotos
- US$ 34,99 por 300 fotos
Depois do sucesso inicial do Endless Summer, surgiram outros apps com propostas de “manifestação com IA”, mas muitos entregaram menos do que prometiam — limitando-se a mensagens motivacionais ou a imagens genéricas de símbolos espirituais também produzidas por IA.
O próprio Endless Summer chegava a se descrever como uma ferramenta para ajudar pessoas cansadas a “manifestar a vida suave que merecem”.
Muitos usuários viram nesses apps uma forma de escapismo; outros os interpretaram como um instrumento de aspiração social: ao criar imagens de uma vida idealizada, as ferramentas alimentam a imaginação e oferecem conforto temporário diante de limitações reais. Especialistas, porém, alertam que o uso excessivo pode reforçar frustrações e distorcer a percepção da realidade.
Será que essas fotos são só uma fantasia passageira — ou um espelho do que muita gente deseja ver sobre si mesma?

