Imagine encontrar, em um pântano silencioso, uma janela para a vida de pessoas que viveram há mais de 5 mil anos. Foi exatamente isso que aconteceu em Gerstaberg, perto de Järna, na Suécia: arqueólogos descobriram estruturas e artefatos pré-históricos muito bem preservados, soterrados em camadas sem oxigênio que impediram a decomposição.
O achado
Entre troncos, estacas e trançados de vime, os especialistas recuperaram objetos que revelam atividades do dia a dia. Havia bastões entalhados — possivelmente usados como bengalas — e fragmentos que sugerem a existência de cestos e armadilhas de pesca. Também foram registrados indícios de fogueiras e uma pequena construção de madeira, talvez um espaço para preparar alimentos. As estacas de madeira, em particular, chamaram a atenção pela excelente conservação.
O que os objetos contam
A análise por datação por carbono, conduzida pelo Arkeologerna, apontou duas fases de uso: 3.300 a 2.900 a.C. e 2.900 a 2.600 a.C.. Naquele tempo, onde hoje há pântano existia um lago produtivo, com plantas como a castanha-d’água e o espinheiro-marítimo, usadas na alimentação — consumidas tanto cruas quanto cozidas em diferentes partes da Europa e da Ásia.
Como essas comunidades alcançavam recursos mais distantes do lago? Os arqueólogos acreditam que passarelas de madeira permitiam o acesso a áreas alagadas, facilitando a coleta de plantas e a pesca. Essa organização espacial mostra um modo de vida adaptado ao ambiente aquático.
Peças encontradas (resumo)
- Bastões entalhados (possíveis bengalas)
- Fragmentos de cestos e armadilhas de pesca
- Indícios de fogueiras
- Pequena construção de madeira
- Estacas preservadas
O contexto cultural
Ainda não se sabe ao certo qual grupo político ocupou a área, mas sítios próximos apontam ligação com a cultura Pitted Ware, anterior aos vikings. Essa cultura, que viveu entre 3.500 e 2.300 a.C., manteve práticas de caça e pesca mesmo depois da chegada da agricultura e desenvolveu comércio e navegações pelo mar Báltico.
O próximo passo
Os responsáveis pelas escavações vão documentar o local em vídeo e compartilhar material nas redes sociais. Quando o mapeamento estiver concluído, as estruturas de madeira e itens do entorno serão recriados em 3D, compondo um tour virtual onde será possível simular a travessia pelas pontes usadas pelas comunidades antigas.
Essa descoberta amplia nossa compreensão sobre como povos pré-históricos exploravam recursos naturais e organizavam seus espaços — e nos dá, de quebra, a chance de caminhar virtualmente por um pedaço raro e bem preservado do passado.