O cinema brasileiro viveu um momento de destaque internacional com o Oscar de 2025 para Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. Em casa, as salas também registraram movimento: cerca de 125,50 milhões de espectadores entre 4 de janeiro de 2024 e 1º de janeiro de 2025, segundo a Ancine.
O quadro na Bahia
Mas a distribuição dessas salas no país é desigual. Na Bahia, apenas 5,5% dos 417 municípios — isto é, 23 cidades — contavam com complexos cinematográficos. No total, o estado tinha 39 complexos em funcionamento e 1 fechado temporariamente.
As cidades com complexos incluem, entre outras:
- Luís Eduardo Magalhães
- Barreiras
- Guanambi
- Irecê
- Juazeiro
- Paulo Afonso
- Ibicaraí
- Teixeira de Freitas
- Itamaraju
- Porto Seguro
- Eunápolis
- Itabuna
- Vitória da Conquista
- Jequié
- Amargosa
- Serrinha
- Cachoeira
- Feira de Santana
- Alagoinhas
- Santo Antônio de Jesus
- Camaçari
- Lauro de Freitas
- Salvador
Em relação ao total nacional, a Bahia dispunha de apenas 142 salas — cerca de 4% do parque exibidor do país — e 14 delas estavam na capital, Salvador. Apesar dessa cobertura reduzida, a produção audiovisual no estado segue ativa, por meio de iniciativas locais e articulações coletivas.
O que produtores apontam
Coletivos como a Articulação Audiovisual dos Interiores da Bahia (Aviba) organizam realizadores do interior para trocar experiências e discutir políticas públicas. Para membros do setor, várias razões ajudam a explicar a redução de salas: mudanças urbanas e sociais, violência, o avanço da internet e a comodidade de ver filmes em casa — sem contar a forte presença de produções americanas nas salas.
Aléxis Góis, sócio-produtor da Cambuí Produções e integrante do Aviba, resume: ‘Com a violência, as cidades mudando e a internet, as pessoas acabaram ficando mais em casa. Esses espaços, sem apoio econômico e sem o mesmo consumo cultural de antes, acabam perdendo espaço. Além disso, há uma dominância muito grande de Hollywood.’
Edson Bastos, diretor da Voo Audiovisual, também destaca a modernização tecnológica e a mudança de hábitos: ‘Depois da chegada do digital, do VHS… ficou muito mais difícil voltar às salas porque as pessoas ficaram no modo da comodidade de assistir seus filmes em casa.’
Produtores também avaliam as políticas públicas: o Fundo Setorial do Audiovisual, criado em 2006 e regulamentado em 2007, trouxe recursos que deram fôlego à cadeia produtiva, mas não foram suficientes para sustentar todo o ecossistema — especialmente distribuição e formação de público.
Na avaliação de profissionais, há concentração de investimento na produção, com pouco aporte em distribuição, exibição e formação de plateia. Mesmo com incentivos, muitos realizadores encontram barreiras para acessar os recursos disponíveis.
Propostas e caminhos
Como saída, produtores defendem maior investimento estadual e municipal em todos os elos da cadeia, e medidas de formação de público — como mostras, cineclubes e festivais em municípios sem salas. Também sugerem cumprir a Lei nº 13.006/2014, que prevê a veiculação de conteúdo cinematográfico nacional nas escolas públicas, como forma de promover identificação cultural e estimular o consumo futuro do cinema local.
O desafio é grande, mas as iniciativas locais e a pressão por políticas públicas mais abrangentes mostram que há caminhos possíveis para ampliar o acesso ao cinema na Bahia.

