Um estudo publicado na revista Environmental Research Letters traz um recado preocupante: mesmo com medidas para atuar sobre o clima, culturas essenciais podem deixar de ser adequadas para cultivo em várias partes do mundo — com consequências econômicas para produtores locais, inclusive no Nordeste do Brasil, em municípios como Paulo Afonso, na Bahia.
O que os pesquisadores fizeram
Os autores rodaram simulações climáticas em 18 regiões-chave e avaliaram a adequação das culturas segundo temperatura, precipitação, umidade e risco de doenças. A conclusão foi que intervenções climáticas podem aliviar o aquecimento temporariamente em alguns locais, mas não são uma solução garantida para os desafios da agricultura.
Quais culturas e locais estão em risco
O trabalho destaca o caso do cacau: a cultura depende de temperaturas estáveis e umidade constante e cresce, em geral, em zonas tropicais próximas ao Equador. Mais de 60% da produção mundial vinha de quatro países da África Ocidental — Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões —, que nos últimos anos enfrentaram secas mais longas e calor intenso, reduzindo safras.
No Brasil, grande produtor, grande parte das plantações está no Nordeste, uma região que tem se tornado progressivamente mais quente e seca, segundo os autores. No ano anterior, apontado como o mais quente já registrado, a safra de cacau caiu e o preço da tonelada no mercado de Nova York superou US$ 11 mil — mais do que o dobro do ano anterior —, pressionando o custo do chocolate para os consumidores.
Outras culturas e impactos sociais
As simulações também indicaram risco para a produção de café, arroz e uvas, com possíveis efeitos na indústria do vinho. Ao afetar rendimento e a adequação das áreas produtivas, as mudanças climáticas ampliam o risco de insegurança alimentar e de aumento da desigualdade no acesso a alimentos básicos.
O que fica
O estudo deixa claro que as intervenções climáticas são necessárias, mas podem não bastar para garantir a viabilidade de várias culturas essenciais. Isso sinaliza a necessidade de monitoramento contínuo das regiões produtoras e de políticas públicas focadas na adaptação da agricultura. Como ficam os produtores locais? A resposta passa por vigilância, suporte e estratégias de adaptação — para limitar prejuízos e preservar a produção onde ainda for possível.

