A Arábia Saudita lançou um plano ambicioso para transformar riqueza do petróleo em capacidade tecnológica. A ideia é construir megacentros de dados ao longo do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico para processar 6% da carga de trabalho global de inteligência artificial — hoje o país responde por menos de 1%.
Quem está por trás
O projeto é liderado pela estatal Humain, criada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman e apoiada pelo fundo soberano do país, avaliado em cerca de US$ 1 trilhão. A Humain já anunciou acordos com grandes nomes do setor: houve compromisso de investimento de US$ 5 bilhões da Amazon, além de contratos para compra de chips de fabricantes como Nvidia, AMD e Qualcomm. A empresa também lançou um chatbot em árabe e um notebook com recursos de inteligência artificial.
“O objetivo é criar uma entidade nacional focada em toda a cadeia de valor da IA”, disse Tareq Amin, CEO da Humain.
Grandes números e incentivos
Um projeto paralelo, a DataVolt, vai erguer um complexo de dados na costa do Mar Vermelho com inauguração prevista para 2028. Juntas, as instalações planejam alcançar 6,6 gigawatts de capacidade até 2034 — equivalente, segundo as estimativas divulgadas, a mais de seis usinas nucleares.
Para atrair operações que consomem muita energia, o reino ofereceu preços industriais competitivos: até 40% mais baratos que os praticados nos Estados Unidos. Também foram propostas zonas especiais chamadas de “embaixada de dados”, onde as instalações poderiam seguir as leis do país de origem dos clientes.
Limites e incertezas
Mas nem tudo depende só de dinheiro e canteiros. A Arábia Saudita depende de chips de IA fabricados nos Estados Unidos, e as tensões entre Washington e Pequim complicaram negociações sensíveis. Em maio de 2025, durante uma visita a Riad, o então presidente Donald Trump autorizou a venda de 18 mil chips da Nvidia, porém a liberação final ficou pendente devido à proximidade comercial saudita com a China.
“É fácil subestimar o nível de ambição dos sauditas, mas eles podem alcançar mais do que muitos críticos imaginam”, afirmou Vivek Chilukuri, pesquisador sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana.
O que isso significa
Observadores em vários países, inclusive no Brasil e na Bahia, têm acompanhado o movimento como um sinal de mudança na geografia da infraestrutura digital — sobretudo pela combinação entre grande capacidade energética e investimentos em centros de dados.
Como desdobramentos confirmados, mantêm-se a previsão de inauguração da DataVolt em 2028, a meta de 6,6 GW até 2034, e o andamento de negociações para a liberação final de equipamentos importados, sem data pública para uma decisão definitiva.

