3I/ATLAS, o cometa interestelar descoberto em julho de 2025, chamou atenção ao passar por uma aproximação inédita da órbita de Marte antes de seguir para o periélio, que ocorreu na quarta‑feira (29). Em poucas semanas equipes ao redor do mundo correram para observar o visitante enquanto ele ainda estava acessível.
O que vimos
O Telescópio Espacial James Webb detectou uma coma rica em dióxido de carbono — uma assinatura que sugere que o corpo se formou em um ambiente muito frio, perto da sua estrela de origem. Em linguagem simples: é como encontrar um pedaço de geladeira cósmica, preservado desde outro sistema estelar.
Imagens do coronógrafo CCOR‑1 do satélite GOES‑19, analisadas por um astrônomo amador, registraram o cometa atrás do Sol e ajudaram a ampliar a campanha de observação global. Essas imagens, somadas aos espectros do Webb, prometem clarificar a atividade, a composição e a trajetória do objeto.
Por que tanto alvoroço?
Parte do interesse vinha da combinação de tamanho e comportamento. Estimativas iniciais apontaram para um núcleo relativamente grande — até cerca de 20 km em algumas avaliações — o que acendeu debates e especulações públicas. Ainda assim, a maioria dos especialistas avaliou que 3I/ATLAS é um cometa atípico, mas de origem natural.
Algumas vozes chamaram atenção por sugerirem hipóteses alternativas. O astrofísico Avi Loeb, por exemplo, propôs publicamente que hipóteses não convencionais, inclusive de origem tecnológica, deveriam ser consideradas. A comunidade acadêmica, no entanto, manteve a interpretação predominante de um objeto natural.
Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros, resumiu assim: “O que seria estranho de verdade seria um conluio envolvendo democratas e republicanos que provocaria uma interrupção na maioria dos serviços públicos dos EUA apenas para atrasar a divulgação das observações de um objeto cósmico”.
Sobre a divulgação de dados
Uma das explicações para a aparente lentidão na liberação de imagens e análises foi o shutdown parcial do governo dos EUA. O corte de verbas e a limitação da atuação de servidores deixaram serviços online, como o site da NASA, desatualizados desde 1º de outubro de 2025, o que complicou a circulação rápida de material oficial.
Em vídeo publicado em canal de divulgação científica, Cristóvão Jacques, fundador do Observatório SONEAR (Oliveira, Minas Gerais), negou teorias conspiratórias e lembrou que a campanha internacional coordenada pela International Asteroid Warning Network (IAWN) já havia sido planejada em setembro de 2024 para melhorar medições de posição de cometas. Ele também tranquilizou sobre risco de impacto: o cometa passaria a cerca de 270 milhões de quilômetros da Terra e não representaria perigo.
Como disse Jacques: “A NASA não é dona da IAWN; é apenas uma das associadas, assim como nós. O cometa passará a 270 milhões de quilômetros da Terra, distância segura. Não há perigo algum.”
Observações contínuas
Enquanto isso, agências e observatórios terrestres continuaram a processar e liberar dados já coletados — entre eles a Agência Espacial Europeia e redes de telescópios como Gemini Sul e Keck. Esperava‑se que novas rodadas de imagens e espectros, inclusive do Webb, ajudassem a responder dúvidas sobre atividade e composição.
- Observatórios e sondas envolvidos em acompanhamento: James Webb, Gemini Sul, Keck, imagens do GOES‑19 e dados de missões como Europa Clipper (NASA) e Hera (ESA).
Após o periélio o cometa continuou a ser monitorado. A visibilidade caiu, com previsão de nova aproximação relativa em dezembro; por causa da janela observacional curta, cada espectro e cada imagem são especialmente valiosos.
Em resumo: 3I/ATLAS é um visitante raro — possivelmente um cometa interestelar rico em CO2 — que ofereceu uma janela estreita de observação. A rapidez do trabalho de observatórios e missões interplanetárias será crucial para entender o que esse objeto nos diz sobre a formação de mundos em outros sistemas estelares.

