É surpreendente imaginar um roedor do tamanho de um rato emitindo sons que lembram o uivo de um lobo. Ainda assim, foi isso que pesquisadores registraram nas noites claras: o rato-gafanhoto (Onychomys torridus) produzindo vocalizações longas e agudas.
O que foi observado
Em gravações feitas em laboratório e em campo, o animal se erguia sobre as patas traseiras, esticava o corpo e inclinava a cabeça para cima antes de soltar um som potente para seu porte. Equipamentos sensíveis mostraram uma estrutura sonora complexa — chiados agudos combinados com vibrações mais graves — que conseguem percorrer grandes distâncias em ambientes abertos.
Será que ele realmente uiva para a Lua? O brilho lunar tornou as emissões mais evidentes, o que alimentou a imagem popular do rato “uivando para a Lua”, mas os cientistas indicam que a função principal é social e territorial, não mística.
Função social e variação entre populações
Os especialistas interpretam essas vocalizações como uma forma de marcação de território e comunicação entre indivíduos. Principalmente os machos usam o som para afastar rivais e sinalizar domínio sobre uma área. Curiosamente, apenas algumas populações de O. torridus apresentam uivos mais intensos, e os motivos dessa variação ainda estão sendo investigados.
Espécies e distribuição
O grupo conhecido como ratos-gafanhotos inclui três espécies:
- Onychomys torridus
- Onychomys leucogaster
- Onychomys arenicola
Todas ocorrem em ambientes desérticos e semidesérticos dos Estados Unidos e do México, embora a intensidade das vocalizações varie entre populações.
Alimentação e apelido
Além do som chamativo, o rato-gafanhoto se destaca pela biologia de predador: alimentação predominantemente carnívora, com registros de caça a insetos, pequenos répteis e, especialmente, gafanhotos — daí o apelido. A comparação com lobos ou com o folclore do lobisomem funciona apenas como metáfora, pela coincidência sonora e pelo comportamento noturno e territorial.
Impacto e próximos passos
Vídeos e reportagens em veículos científicos ajudaram a documentar a potência e a duração das vocalizações, tornando o caso um bom material para educação científica e debates sobre biodiversidade — inclusive em cidades brasileiras como Paulo Afonso, na Bahia, e Salvador. Pesquisas seguem em curso para entender por que apenas certas populações uivam com mais intensidade e como fatores ambientais e sociais influenciam esse comportamento.
No fim, o episódio mostra como pequenos animais podem nos surpreender e abrir caminhos para aprender mais sobre comunicação animal e conservação.

