Em Genebra, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi direto: a meta de limitar o aquecimento a 1,5°C já não parece alcançável.
“Uma coisa já está clara: não conseguiremos conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C nos próximos anos”, afirmou Guterres, citando dados recentes que mostram a tendência de aquecimentos cada vez maiores.
O que os dados mostram
O observatório europeu Copernicus registrou que a média global já atingiu 1,4°C acima do período pré-industrial e que, em 2024, o aquecimento chegou a 1,6°C. Especialistas descreveram esse episódio como uma experiência temporária de um “mundo pós-1,5°C”.
Por que 1,5°C importa
O limite de 1,5°C foi definido em 2015 para evitar os impactos mais severos das mudanças climáticas. Relatórios do IPCC mostram que, mesmo nesse nível, já haveria perdas significativas — e que os efeitos se agravam muito mais se a temperatura alcançar 2°C ou além.
O papel da OMM
Falando pela primeira vez à Organização Meteorológica Mundial (OMM), Guterres chamou a agência de “um barômetro da verdade” e destacou a importância das observações e modelos climáticos para orientar políticas e alertas à população.
“Sem a modelagem rigorosa e a previsão da OMM, não saberíamos o que nos espera — ou como nos preparar”, disse o secretário-geral, lembrando que dados confiáveis são a base para decisões mais rápidas e eficazes.
A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, pediu uma intensificação das ações e ressaltou lacunas em países em desenvolvimento, pedindo mais investimentos em observação e serviços meteorológicos nacionais. Segundo ela, a missão da OMM nunca foi tão urgente.
Alertas e desigualdades
Um ponto positivo apresentado no congresso: em 2024, 108 países relataram ter sistemas de alerta precoce para múltiplos riscos, ante 52 em 2015. Ainda assim, as estatísticas mostram que a mortalidade por desastres é seis vezes maior em nações com sistemas de alerta limitados.
Guterres e outros participantes reforçaram a necessidade de expandir a Iniciativa de Alertas Antecipados para Todos, lançada em 2022, que tem a meta de cobrir toda a população mundial até o fim de 2027.
Próximos passos
O secretário-geral pediu que os governos apresentem planos nacionais de ação climática mais ambiciosos antes da COP30, marcada para ocorrer em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro. Participantes apontaram a COP30 e a meta de cobertura global de alertas até 2027 como marcos para ampliar vigilância e avisos.
O que falta então? Mais ambição, financiamento e a expansão de sistemas de monitoramento e alerta — coisas concretas que podem reduzir danos e salvar vidas, como um alarme que dá tempo para agir antes que o pior aconteça.