A OpenAI fez um pedido que chamou a atenção do mercado: foram encomendados cerca de 26 gigawatts em processadores avançados de fabricantes como Nvidia, AMD e Broadcom, em negócios originados em San Francisco. O volume, estimado como equivalente a mais de 10 milhões de unidades, tem um consumo de energia comparável ao de aproximadamente 20 usinas nucleares. Impressionante — e daí vem a pergunta: como isso será financiado?
O desafio do caixa
Relatórios e fontes de mercado lembram que, mesmo com receita projetada em cerca de US$ 13 bilhões no ano, a OpenAI não espera registrar lucro antes de 2029 e teria acumulado bilhões em prejuízos recentemente. Isso deixa investidores inquietos sobre a sustentabilidade financeira do plano.
Gil Luria disse que a empresa precisará de ‘centenas de bilhões de dólares para honrar seus compromissos’.
O cofundador Greg Brockman, em entrevista à CNBC, reconheceu a dificuldade: construir infraestrutura para atender a uma ‘avalanche de demanda’ por IA não é simples. Segundo ele, a empresa deverá recorrer a ‘mecanismos criativos de financiamento’ para sustentar esse crescimento.
Parcerias com fabricantes
Entre os acordos noticiados, a Nvidia anunciou planos de investir até US$ 100 bilhões na OpenAI ao longo dos próximos anos, com o objetivo de ajudar a montar o que chamou de maior infraestrutura de IA do mundo. Parte desse fluxo foi descrito como um formato de financiamento circular: a OpenAI compraria chips da Nvidia com recursos que a própria fabricante teria destinado, e a Nvidia recuperaria valor também por meio de participação acionária.
A AMD seguiu caminho diferente, oferecendo à OpenAI a possibilidade de adquirir participação acionária na fabricante — um movimento pouco comum no mercado e visto por analistas como uma tentativa de ganhar destaque num segmento dominado pela Nvidia. Gil Luria avaliou o acordo como um ‘desequilíbrio pouco saudável’.
Como analistas veem o cenário
Alguns compararam a escala dos investimentos ao boom das pontocom nos anos 1990. Outros, como o professor Josh Lerner, lembraram que ‘a demanda por IA hoje é real de uma forma diferente da vivida nos anos 1990’. Para quem aposta em parcerias, há sinais positivos: Angelo Zino destacou a base de usuários — mais de 800 milhões pessoas usando o ChatGPT — como indício de viabilidade para acordos e captações.
Mesmo assim, segundo análises citadas, nem mesmo a venda de participações à avaliação atual de US$ 500 bilhões bastaria para cobrir todos os compromissos com aquisição de chips. Isso pode levar a empresa a buscar empréstimos e, possivelmente, a usar equipamentos como garantia.
Contexto global e impactos locais
No cenário mundial, concorrentes como Google e Meta financiaram suas expansões de IA com lucros bilionários da publicidade digital. A OpenAI, por outro lado, segue dependente de novas rodadas de investimento e de estruturas alternativas de financiamento.
No Brasil — inclusive na Bahia — operadores de infraestrutura energética e de data centers acompanharam de perto a movimentação. A demanda por grandes volumes de processamento reacendeu debates sobre fornecimento de energia, necessidade de investimento em centros de processamento e os impactos para o ecossistema nacional de inteligência artificial.
O analista Stacy Rasgon afirmou que essa transformação ‘tem o poder de derrubar a economia global por uma década ou nos levar à terra prometida’.
Em resumo: investidores, especialistas e operadores seguem atentos às negociações entre a OpenAI e os fabricantes de chips. A possibilidade de novas rodadas de captação, operações de crédito lastreadas em ativos tecnológicos e outras soluções financeiras deve continuar no centro das atenções enquanto a expansão de infraestrutura avança.